domingo, 3 de janeiro de 2010

ANTONIO LEITE :REFERÊNCIA EM RÁDIO NO VALE DO PARAIBA



Especial
Antonio Leite: Referência em rádio no Vale do Paraíba


Quando as pessoas falam em rádio, logo vem a mente de muitas delas um nome: Antonio Leite. O jornalista, que convive com o microfone desde a infância, também aparece de segunda à sexta-feira, a partir das 12h50, na tela da TV Band Vale. Polêmico, Antonio Leite não mede as palavras quando defende uma ideia. É a fala livre que, certamente, dá a credibilidade e ibope a este comunicador que, aos 75 anos de idade, é exemplo de determinação para muita gente. Em 2003, depois de sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral), Antonio Leite não se deixou abalar. “Fiquei seis dias entre a vida e a morte. A voz que você ouve hoje não é mais a natural. É outra. O AVC afetou minhas cordas vocais”, revelou Antonio Leite, que buscou forças na profissão para se restabelecer o mais rápido possível. “Quando ia fazer minha fisioterapia eu dizia: eu vou continuar no rádio”. Para ele, o rádio foi “um remédio, um incentivo e uma terapia” para que a batalha pela vida fosse vencida. Em homenagem ao dia do radialista (21 de setembro) e ao dia do rádio (25 de setembro), Roteiro de Ouro entrevistou Antonio Leite, que falou sobre sua carreira e a respeito desse veículo que tem encantado gerações:

Roteiro: Antes de ingressar no rádio, você trabalhou primeiro em um serviço de alto-falantes?
Antonio Leite: Sim, foi em 1950. Eu era muito jovem... devia ter 16, 17 anos. Comecei no alto-falante de Pindamonhangaba, que funcionava na Praça Monsenhor Marcondes. Era o “serviço de alto-falantes Paraíba”. Fui treinando lá.
Roteiro: E como surgiu essa oportunidade?
Antonio Leite: Com essa idade, eu já era oficial-alfaiate. Eu fazia terno... naquele tempo não havia fábrica de roupa. Quem comprava roupa feita era gente pobre. Os remediados e ricos faziam terno na alfaiataria.
Roteiro: Seu pai ou alguém da família era do ramo?
Antonio Leite: Não. Meu pai era lavrador em Pinda, na fazenda do Borba. Eu nasci lá. Quando jovem, eu trabalhava na alfaiataria, que era ao lado do serviço de alto-falante. Um belo dia houve uma greve de dois locutores que trabalhavam lá. Era sete e meia da noite. O dono do serviço estava na porta, despachando os dois e eu estava lá perto, quando ele me perguntou: “Você é alfaiate, te conheço há bastante tempo. Você é capaz de tocar alguns discos para nós?”. Eram discos de cera, de 78 rotações. De três em três discos era preciso trocar a agulha de ferro! Eu topei... a alfaiataria estava fechando mesmo... era quase oito horas da noite. E ele me perguntou: “Você nunca falou no microfone?” Daí disse que falei em um parque de diversões, quando tinha 13 anos, mais ou menos. Era o parque de diversões “Vera”, que ficava no largo São Benedito. No parque, eu vendia bolo, numa cesta. Uma vez, o locutor me perguntou: “Você não é capaz de ficar aqui? Eu vou tomar conta de um brinquedo, porque faltou um funcionário. Você fica aqui, só trocando o disco”. Topei. Mas eu era muito abelhudo e já tinha ouvido como o locutor falava. Daí eu peguei um textinho e li no ar, sem ser locutor. Daí o homem disse: “Pode continua falando porque quebrou o galho”. Virei locutor naquela noite! E depois foram mais dois anos, até 1952, trabalhando em alto-falantes.
Roteiro: E como foi o início no rádio?
Antonio Leite: Não havia televisão. Era muito difícil quem tinha. O sucesso era o rádio. E tinha, na época, aberto a Rádio Difusora de Pindamonhangaba que pertence à família Beringhs. Daí eu fui, do alto-falante, para a rádio. Foi um pulinho só. Comecei a falar na rádio, sem teste. Só que ninguém ganhava nada. Locutor nenhum da Difusora, naquela época, ganhava nada. Era para pegar cartaz com as meninas... Daí, de 52 a 54, eu trabalhava na alfaiataria, no alto-falante, à noite, e umas duas horas por dia na rádio Difusora de Pinda. Mas o celeiro mesmo do rádio era a Difusora de Taubaté. No Vale do Paraíba todo, acho que no estado de São Paulo, o celeiro do rádio era Taubaté. Eu resolvi – pela grande audiência que a rádio de Taubaté tinha – pedir emprego na Difusora. Me deram o emprego de locutor. Fiquei, de 54 a 59, na rádio.
Roteiro: Mas quando você veio para São José?
Antonio Leite: Eu estava muito bem em Taubaté. A rádio mais ouvida em São José era a Difusora de Taubaté. Ela tinha o melhor som, a melhor qualidade... São José ouvia Taubaté, Caçapava ouvia Taubaté... até Pinda ouvia Taubaté, embora Pinda tivesse rádio. Era Taubaté que dominava o Vale inteirinho. Daí o Anísio Mimesse, que era diretor da Rádio Clube, que é da Bandeirantes, vendo que eu tinha audiência, chamou Joaquim Fernandes, o seu mestre de ordens, que tinha um carro de som na rua, e falou: “Você é capaz de ir a Taubaté convidar o Antonio Leite para vir prá cá? Aonde eu vou, até na minha casa, só se ouve a Difusora de Taubaté e o Antonio Leite”. Daí me convidaram. Era começo de 59. Eu ganhava um salário em Taubaté que ele dobraram em São José.
Roteiro: E você ocupou a mesma função?
Antonio Leite: Sim. Eu era apresentador de programa... era locutor-apresentador de música. Mas lá em São José eu ouvia, na Rádio Bandeirantes de São Paulo, um locutor chamado Vicente Leporace que lia jornal e comentava. Daí eu resolvi fazer um entremeio de musical, das 7 às 8, em São José, lendo todos os jornais. Naquele tempo tinha o “Notícias Populares”, a “Folha”, o “Estadão”, o “Valeparaibano”... daí eu lia esses jornais e comentava. Me achei um verdadeiro jornalista-radialista. Mais tarde a Difusora fez um acordo comigo para que eu voltasse a trabalhar em Taubaté. Foi em 1961. Vi que São José era muito pequena e resolvi então voltar para Taubaté, mas sem abandonar São José. Todo dia eu saia cinco horas da manhã, de ônibus, de Taubaté. A Via Dutra só tinha uma pista. Levava de uma hora e meia a duas horas para chegar em São José. Às sete horas da manhã, eu apresentava em São José o “Tele-informativo Volkswagen”, no ano de 61. Na época eu já era jornalista. Meu registro profissional é de 1959. Depois disso tudo, permaneci em São José, onde estou até hoje.
Roteiro: E depois desse período?
Antonio Leite: Em 71 eu deixei a rádio Clube. Não me lembro bem por quê. Daí pedi emprego na Rádio Piratininga, que era fraquíssima. A transmissão não chegava nem no estádio Martins Pereira. A rádio era da rede de emissoras Piratininga. Em 73, Seme Jorge comprou as ações da rádio e ele resolveu me colocar como gerente da rádio e continuei com o meu programa, como faço até hoje. Daí fui criando um estilo próprio. Achava que ler jornal e comentar era maçante. Era preciso fazer algo diferente. O ouvinte ia saber que eu estava lendo jornal. Foi daí eu criei este estilo, que mantenho até hoje, de fazer um jornalismo diferente, em tudo.
Roteiro: Mas é diferente em qual sentido?
Antonio Leite: Tenho uma coisa que é muito importante no rádio: o improviso. Tenho um improviso muito bom. Deus me ajudou a isso! Me lembro de coisas que são difíceis do pessoal lembrar. Faço um jornalismo mais no improviso. Tanto que na TV Band eu não trago nada escrito... mas daqui a pouco a gente chega na TV. Bem, foram 34 anos na Rádio Piratininga. Instalamos a FM, fomos melhorando a potência da AM... a rádio ganhou muita popularidade. Tanto que a Piratininga chegou a ficar seis anos em primeiro lugar em São José.
Roteiro: E a Rádio Planeta?
Antonio Leite: Em 2002, Seme Jorge resolveu arrendar a rádio para a Igreja Universal, porque dava mais lucro do que ter uma rádio comercial. Nós ficamos desempregados, eu e os funcionários. Daí apareceu uma emissora evangélica, que mais tarde deixou de ser evangélica – a Energia FM. Arrendei por três anos. Depois então apareceu a Difusora. Eu larguei a Energia e arrendei a RD, que passou a ser Planeta Diário, nome que já usava na rádio Energia. Lá estamos até hoje.
Roteiro: No jornalismo, dentre os vários assuntos que você trata, há um foco grande na política. Porque essa escolha?
Antonio Leite: Olha, todo jornalista que não embarcar na política não é um jornalista. Essa é a verdade. Eu sempre digo: o político não gosta de crítica e não gosta que se defenda muito o povo – a verdade é essa – e eu defendo muito a população. Eu faço um jornalismo em que eu sou político e apolítico também. É um jornalismo mais centrado na política. Por quê? Porque o povo é político, desde o nascimento. Quando nasce a criança, já há a política: “É menino ou menina, doutor?” Já tem a disputa. Hoje em dia já se sabe, bem antes, mas antigamente não.



Roteiro: Após 57 anos de rádio, como a televisão surgiu em sua carreira?
Antonio Leite: Um belo dia, o Claudio Giordani, da TV Band, me convidou para almoçar. Ele me falou: “Você vai trabalhar comigo”. Daí eu disse: “Tenho minha rádio, não tem jeito”. A Band é detentora de várias emissoras da cidade. Ela comprou recentemente a Stereo Vale. Mas daí o Claudio me falou: “Você vai para a televisão”. Então eu falei: “O que eu vou fazer na televisão”. Ele disse: “Você vai fazer igualzinho o que faz na rádio”. Daí nós viemos para a TV. Nas pesquisas do Ibope, os nossos programas que fazemos de Taubaté, para 72 cidades, ou estamos em primeiro, ou estamos em segundo lugar na audiência.
Roteiro: Foi uma mudança muito abrupta para você?
Antonio Leite: Quando via meus primeiros programas, que eram gravados em fita magnética, nos primeiros dois meses, deu vontade de desistir. Meu programa é diferente de tudo no mundo. O que me imitam... este estilo fui eu que inventei. Trouxe para televisão e deu certo. É o rádio na televisão. Além disso, a Band tem uma marca espetacular de muita credibilidade. Agora em outubro, no dia 13, completo seis anos de televisão. Alguns amigos me diziam: “Ih Antonio Leite... já trabalhei na televisão. Eu acho que você não dura 15 dias. O pessoal cria muito problema...”. Daí eu disse: “Não tem problema. Eu também crio”. E vai completar seis anos que eu estou aqui. Seis anos...
Roteiro: Como você avalia o rádio e a TV perante novas tecnologias, como a internet?
Antonio Leite: Quando surgiu a televisão, todo mundo falava que a TV iria acabar com o rádio. Nunca vai acabar. Cada um tem o seu segmento. O rádio vai durar a vida inteira. O pedreiro está trabalhando no edifício de 15 andares, colocando tijolo, e está ouvindo o rádio. O cidadão está no carro de boi, indo prá roça, e está com o radinho ligado. A dona de casa está fazendo almoço, e está ouvindo... o rádio nunca vai deixar de existir!

FONTE : http://www.vnews.com.br/hotsite

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