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sexta-feira, 11 de junho de 2010
A TV Tupi não foi pioneira na América Latina
Por preguiça ou por vaidade há anos repetimos que a televisão brasileira foi pioneira na América Latina; a TV Tupi inaugurada em 18 de setembro de 1950 teria sido a primeira emissora do continente inaugurada fora dos Estados Unidos. De tanto repetir essa cantilena acabamos acreditando nela, sem levar em consideração o ponto de vista dos cubanos e mexicanos que também reivindicam essa primazia. De fato Brasil, Cuba e México colocaram no ar imagens de televisão e exibiram uma grade de programação regular, no segundo semestre do ano acima referido: Entre setembro e outubro os três paises inauguraram oficial e oficiosamente a TV, mas a rigor foi o México quem liderou esse processo, primazia afiançada não apenas pela cronologia, mas também pelos antecedentes no desenvolvimento do veículo.
Em 1946 o mexicano Emilio Azcarraga Vidarrueta reunia empresários do continente para criar a “Televisión Asociada”, entidade de classe cujo objetivo era exercer pressão sobre os governos a fim de se obter as condições de infra-estrutura adequadas para a implantação da TV nos respectivos países. Não há evidências de que o Brasil tenha participado desse grupo que reunia ainda o mexicano Clemente Martinez (vice-presidente), o cubano Goar Mestre (secretário) e o uruguaio Rául Fontaine (tesoureiro). O grupo fez muito barulho, alertou outros empresários de comunicação que se sentiram preteridos e nenhum dos figurões aqui citados (todos anunciaram que seriam pioneiros nos seus respectivos países) conseguiu a primazia desejada. Vidarrueta perdeu a corrida no México para Rômulo O’ Farrill e em Cuba um atônito Goar Mestre viu seu adversário Gaspar Pumarejo sair na frente.
Em todo caso enquanto a “Televisão Asociada” fazia barulho e lobby, Assis Chateaubriand, no Brasil, não estava totalmente alheio, mas, digamos, hibernava o projeto de instalar duas emissoras no país, uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro, conforme manifestara a David Sarnoff e Wladimir Zworykin, diretores da RCA, no histórico encontro realizado em Nova Iorque em 1944. Segundo relatam Fernando Moraes e Almeida Castro, cada um com uma versão diferente, os empresários não deram muita bola à pretensão do brasileiro, até porque a televisão nos Estados Unidos, naquele momento, ainda era um projeto experimental que aguardava o fim da guerra para se tornar realidade. Alias, projeto experimental no mundo inteiro.
O fato é que no México o veículo vinha se desenvolvendo através de experiências pontuais, enquanto em Cuba e no Brasil isso não ocorria. No México as experiências com TV iniciaram-se em 1933 com equipamentos construídos pelo engenheiro Guilherme Gonzáles Camarema, dispondo de estúdios da Xefo cedidos pelo Partido Nacional Revolucionário. Dois anos depois o próprio PNR realiza em circuito fechado, transmissão exibindo o General Làzaro Cardenas, com equipamentos importados dos Estados Unidos. Em 1939 novas experiências públicas de Camarema, desta vez com uma câmera de TV que reproduzia as imagens a cores. Empolgado com os resultados, no ano seguinte, o engenheiro patenteava o “Tricomático”, sistema mecânico baseado nas cores verde, vermelho e azul e em 1942 realizava transmissões à longa distância. Durante toda a década de 40 sucederam-se no México outras iniciativas e consta que pelo menos sete empresários (Ocon, Escobar, Reachi. Coy, Camarena, Farrill e Vidarrueta) tenham reivindicado favores do Governo para implantar a televisão.
Já em Cuba o único registro de experiências anteriores ao lançamento da TV data de 1946 quando a atriz Maria de Los Angeles Santana e seu esposo o ator Julio Veiga, patrocinadores e protagonistas ao mesmo tempo, distraíram os Habaneros uma semana com imagens, em circuito fechado, geradas por equipamentos alugados em Nova Iorque. No Brasil até a inauguração da TV Tupi e a exibição em circuito fechado do show de Frei Mojica que antecedeu ao evento, há registros de apenas duas exibições, sem maiores repercussões na imprensa e na sociedade. A primeira realizada pela Telefunken alemã na Feira Internacional do Rio de Janeiro em 1936 e a segunda, descrita por Renato Murce, na Rádio Nacional, em inícios de 1950, promovida por um fabricante francês, sem sucesso. Enciumado com a pirotecnia da Radio Nacional Chateaubriand teria intimado o Presidente Juscelino, segundo conta Mario Lago, a suspender qualquer outra iniciativa estatal nesse sentido.
Concluindo, o fato é que somente em setembro de 1950 os três países objeto deste artigo encontravam-se com equipamentos instalados, equipe contratada, testes realizados, importação de receptores, tramites de alfândega acelerados e uma grade de programação regular que incluía tele-teatro, jornalismo, humor, programas infantis e filmes. Mas nessa corrida o México, mais estruturado e com uma cultura empresarial de radiodifusão e antecedentes da TV, mais bem equacionados, levou a melhor. México iniciava as suas transmissões regulares em 1º de setembro, o Brasil em 18 de setembro e Cuba em 24 de outubro. O Brasil se constituía efetivamente no primeiro país da América do Sul (e não da América Latina) e o quinto do mundo (e não o quarto) a inaugurar a TV. Fatos que se chocam com as versões e mexem com o nosso orgulho. Fazer o que? FONTE : http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/blog/?m=200803
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