quinta-feira, 10 de junho de 2010

A revista dos esportes olímpicos






Em meados de 1932 o Itaquece, navio de cabotagem da marinha mercante brasileira, zarpou do Porto de Santos rumo a Los Angeles. Levava 55 mil sacas de café sem comprador certo e 67 atletas brasileiros que deveriam representar o país nas olimpíadas. Antes assumiram o compromisso com o Comitê Olímpico Brasileiro de vender a mercadoria nos porões, porto a porto; esse era o preço do patrocínio estatal a ser pago por cada um dos esportistas, nessa condição transformados em promotores de vendas. Faziam parte da comitiva dirigentes e jornalistas, entre os quais Fernando de Castro Rebello e Victorio Emmanuel Pareto. Já em solo americano, assistindo as performances da nadadora Maria Lenk e do saltador de vara Lucio de Almeida Castro, os dois cogitaram criar uma revista especializada em esportes olímpicos.

No final do referido ano “Olympia”, que esse era o nome da publicação, revista semanal com 32 páginas, Capa em policromia, chegava às bancas, logo esgotando a sua primeira edição, resultado da chuva de papel picado (mini-panfletos) promovendo o seu lançamento pelas principais ruas do Rio de Janeiro. Expediente este antes utilizado por Assis Chateaubriand para o lançamento de O Cruzeiro e por isso mesmo uma ação promocional já testada e de impacto garantido. O logotipo da publicação incorporara a imagem do lançador de disco, o “discóbolo” de Miron, escultor que viveu no século V antes de Cristo. O editorialista definia o seu estilo: “Não abusaremos de louvores intermináveis, recheados de adjetivos bombásticos para com os medalhões”.

Tarzan era o destaque

Olympia preencheu uma lacuna no mercado editorial que se ressentia da falta de um veículo segmentado na temática esportiva, desde o desaparecimento de Sport Ilustrado (1921), Sports (1923) e Mundo Desportivo (1926). E mesmo sendo editada quatro meses após o fim dos jogos olímpicos, este seria o tema predominante nas primeiras edições com muitas fotos dos atletas, provavelmente recortadas de publicações estrangeiras; o corte na mão grande da tesoura evidencia-se em quase todas as páginas. Mas este era um recurso válido na época e no caso específico a única maneira de retratar o evento, já que a cobertura sequer fora prevista, pois no tempo de realização das olimpíadas não existia.A imagem de Johnny Weissmuller o nadador olímpico que o cinema transformaria em Tarzan era o destaque recorrente nas primeiras edições da publicação que também mostrava o projeto de um estádio para o Palestra Itália e as performances de nossos melhores atletas olímpicos, os resultados do turfe semanal e rankings de melhores tenistas elaborados pelo “corpo redactorial” da revista, assim denominado no expediente, composto por dez jornalistas.

A sede era no Rio de Janeiro (Rua 13 de Maio), mas tinha sucursais em São Paulo (Edf Martinelli) e Porto Alegre (Rua Lima e Silva).Se o nome e objetivo da publicação remetia ao amadorismo, a campanha pela profissionalização do futebol, um paradoxo, seria a sua maior bandeira. Olympia mobilizou a opinião pública e participou na linha de frente na luta para que os jogadores de futebol recebessem uma remuneração. Considerava o amadorismo coma sua áurea de espírito olímpico uma hipocrisia e uma forma de exploração dos atletas, enquanto os clubes enriqueciam. Campanha vitoriosa que lhe rendeu desafetos, mas também grande prestígio. Não tenho a menor idéia de quanto tempo a revista circulou. Não há qualquer registro de sua existência nos catálogos de revistas publicados, livros sobre história da imprensa ou das revistas, ou na Internet, o que é lamentável, considerando a sua qualidade. Sei de sua existência por que possuo a coleção de 1932-1933.

Artigo de minha autoria inicialmente publicado no Portal Imprensa em 11/08/2008
FONTE :http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/blog/?m=200808

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