segunda-feira, 22 de março de 2010

O PROFISSIONAL DESATUALIZADO DO RÁDIO


O profissional desatualizado do rádio.



Provavelmente você conhece alguém assim. Pior, é possível que ele tenha sido (ou seja) seu chefe. Reuni algumas características de pessoas que perderam o bonde da história no que diz respeito ao rádio. Não é de forma alguma uma condenação ou execração pública de quem quer que seja, mas sim uma forma de chamar a atenção para uma auto-avaliação pessoal de um comportamento como ser humano e profissional.

01) Inventa inimigos externos.

O profissional desatualizado sempre elege como culpado algum fator externo pelo qual ele não tem o controle. Assim é mais fácil transferir a culpa ou responsabilidade de seus atos. Já que este é um blog de rádio, vemos muitos profissionais condenando as gravadoras como se as mesmas fossem as causadoras do mal maior. “Gravadoras-exploradoras-capitalistas-selvagens-imperialistas-manipuladoras-do-pobre-ouvinte”: Esta é uma cantilena frequente na boca dos saudosistas (outro item deste texto) sobre a atual situação do rádio. Falam isso como se eles não fossem parte integrante do rádio e navegassem ao sabor de suas ondas. Ora, não existe UM fenômeno musical lançado no Brasil (e no mundo) que não tenha por trás um grande investimento de gravadora, da bossa nova ao rock, do sertanejo ao funk. Como vocês acham que os Beatles chegaram ao estrelato (merecido, diga-se de passagem) com suas economias pessoais ou com um esquema milionário da EMI?

02) Tem pouca adaptabilidade.

Em resumo: O mercado tem que se adaptar a ele e não ele ao mercado. Mais do que nunca, o profissional do rádio deve ser polivalente. É uma exigência profissional conhecer todos os aspectos do rádio como locução, produção, programação, comercial, etc. Um ex-diretor artístico de rádio pop no passado pode passar a ser um locutor de uma estação popular hoje, por exemplo. Quem diz “Eu jamais vou trabalhar em radio brega” pejorativamente, meu conselho é que abra um açougue. Profissional de rádio com “P” maiúsculo anuncia tão bem Calcinha Preta como Simple Plan. O profissional desatualizado geralmente só consegue fazer um tipo de rádio e tem uma visão limitada do setor.

Em nosso meio não tem como prever todos os cenários. Mas há uma certeza, a de que não temos certeza nenhuma. O mercado de rádio hoje é extremamente volátil. As mudanças acontecem rápido e não há mais dúvidas: É você que tem que mostrar que o rádio precisa de você e não o contrário. A era do emprego eterno acabou há vinte anos.

03) Ignora as novas tecnologias e a concorrência.

O rádio passa por profunda modificação mas o profissional desatualizado ignora isso. Novas plataformas de mídia nascem em um ritmo alucinante enquanto nosso amigo acha que “site de rádio é um negócio superfluo”. Sim, os dinossauros ainda não morreram. A classe C comprando PCs como nunca, conhecendo assim outros universos e formas de comunicação. O público alvo interagindo e influenciando cada vez mais o conteúdo consumido. A concorrência com meios alternativos (Tvs in door, webrádios, canais a cabo, etc.) aumentando de forma vertiginosa e o diretor acha que a rádio vai chamar a atenção por si só. Não vai. Não há como o público-alvo absorver toda a quantidade de informações. Recebemos em média 500 mensagens publicitárias por dia o que torna nossas escolhas de marca mais seletivas.

04) É profundamente saudosista.

OK, confesso. Eu sou saudosista. Mas uma coisa outra é ter o privilégio de possuir experiências que constroem seus valores e olhar para frente, outra é se prender ao passado, recordando antigas glórias, e viver enclausurado nele. Ser saudosista é bom, mas não quando atrapalha o presente. Frases como “Rádio bom mesmo era nos anos 80!” demonstra que o profissional não se encaixou no atual mercado radiofônico onde a demanda por soluções criativas e eficientes é fundamental. Não digo que o rádio dos anos 80 não era bom, muito pelo contrário, mas hoje a música, o público e o rádio mudaram. A tecnologia influi diretamente na forma como o rádio deve ser administrado, para o bem e para o mal. Atualmente o ouvinte é muito mais difícil de ser conquistado devido à maior concorrência. O mercado está fragmentado, ou seja, para você chamar a atenção da audiência para a sua marca, o investimento em publicidade e fidelização são enormes.

05) Se considera um guru, o salvador das rádios.

O profissional desatualizado geralmente considera a sua verdade como a única e verdadeira para a salvação do rádio. Já vi em um fórum uma espécie assim separava as pessoas em duas categorias: As que preservavam e amavam o rádio (que coincidentemente concordavam com seus argumentos) e o resto, que tinha por objetivo acabar com o meio, eram corrompidas “por tudo o que está aí”. Esse caso, a meu ver patológico, tem outra característica, odeia ser contrariado e não vacila em atacar a jugular usando as piores estratégias como a desqualificação do “oponente”. Cuidado com esses elementos.

06) Fala mal de rádios exclusivamente pelo formato.

Essa é geralmente outra característica do profissional desatualizado. Ele só consegue trabalhar com um formato de rádio, e parte para desqualificar os colegas que estão em emissoras cujo o estilo musical não o agrada. Simples assim. Acredito que o bom radialista seja aquele que compreende e absorve todas as linguagens do público que ouve rádio. Assiste com o mesmo interesse um documentário do Discovery Channel como o show de calouros do Raul Gil, porque ambos lhe trarão subsídios para suas escolhas em seu universo de trabalho. Quem trabalha em rádio deve ficar antenado 24 horas por dia pois perder uma tendência ou movimento de sua audiência significa estar na lanterna do mercado radiofônico.

Enfim, o profissional desatualizado me lembra uma Ollivetti. Para os mais novos, essa máquina de escrever era a “ferrari” de sua época. Visual italiano, motor elétrico, som inconfundível das teclas martelando o papel. Onde estão as Olivettis hoje? Foram implacavelmente engolidas pelos impessoais e silenciosos computadores, muito mais eficientes.

Você seria uma Olivetti hoje?



fonte: http://gabrielpassajou.com

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