quarta-feira, 22 de junho de 2011

Função social do rádio corre risco sob controle de igrejas

   Foto:     Claudio Capucho




Para especialista, veículos sob controle de entidades religiosas tendem a reduzir a pluralidade e atuar com evangelização



Filipe Manoukian

São José dos Campos



A compra da Rádio Bandeirantes São José dos Campos pela PIB (Primeira Igreja Batista), concretizada nesta semana, expõe uma crise comum enfrentada por rádios em todo o país: controladas por entidades religiosas, as mídias tendem a reduzir sua pluralidade, perdendo sua função social.



Só em São José dos Campos, das 10 rádios devidamente licenciadas pelo Ministério das Comunicações, cinco são dirigidas por grupos religiosos.



Entre as chamadas rádios piratas, também há um domínio absoluto de estações com cunho religioso.



Uma fonte oficial do governo confirmou a tendência. “Isso (igrejas assumirem o controle de rádios) tem sido comum em todo o país. O empresário tem encontrado muita dificuldade em ganhar dinheiro com publicidade. Para a igreja, isso não é problema, pois ela faz publicidade de si mesmo”.



Mestre em Linguística aplicada e professor de Radiojornalismo na Unitau (Universidade de Taubaté), Robson Luis Monteiro avaliou a situação de forma similar.

“Começou com a compra de horários no período noturno. Com o tempo, as mensagens religiosas começaram a ser comuns também nos períodos matutinos e vespertinos”, afirmou Monteiro.



“A partir daí, tornou-se um processo irreversível. Cada vez mais as igrejas vão comprar horários, arrendar ou assumir a direção das rádios”, emendou o professor.



Função social. “O rádio é popular, com uma linguagem muito coloquial, e atinge todas as camadas sociais, de A a E. Mas é principalmente nas camadas mais baixas, como a D e a E, que o rádio tem maior influência. Muitas dessas pessoas acreditam em tudo o que o rádio afirma”, continuou.



Para Monteiro, as entidades religiosas viram nesse quadro uma brecha para a aumentar o poder de evangelização. Entretanto, é exatamente nesse momento que a função social do rádio começa a ter fim.



“Que tipo de jornalismo esses rádios vão fazer? Vamos supor que haja um debate sobre casamento homoafetivo será que, esse debate será direcionado”, questionou.

“Será que a PIB, por exemplo, colocaria na pauta de um programa jornalístico, de serviço, um congresso de umbanda que ocorresse em São José”, emendou.



Em suma, a discussão gira em torno da pluralidade do veículo. “Quando você perde a imparcialidade ao informa, você perde a função social. No fundo, você começa a arrebanhar”, disse Monteiro.



Bandeirantes. Por se tratar de uma rádio comercial, a compra da Rádio Bandeirantes São José pela PIB não encontra resistência jurídica. A concessão outrora concedida ao Grupo Bandeirantes continua válida mesmo com a transição de direção.



A rádio passará a se chamar “FelizCidade AM”. Segundo o pastor da PIB, Carlito Paes, a rádio não perderá seu foco, que é a prestação de serviços. Os programas jornalísticos e esportivos continuarão.







LEGISLAÇÃO



Radiodifusão

A Constituição determina que os serviços de radiodifusão devem ter por fundamento filosófico a finalidade educativa e cultural, a promoção da cultura nacional e regional, a regionalização da produção cultural, artística e jornalística e o respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família, sendo permitida a exploração comercial desses serviços



Funcionamento

Para entrar em operação, as empresas devem cumprir determinações legais. As outorgas são conferidas por 10 anos a rádios, sendo prorrogáveis se de interesse das empresas      
 

fonte : http://www.ovale.com.br/regi-o/func-o-social-do-radio-corre-risco-sob-controle-de-igrejas-1.122321        Junho 22, 2011 - 04:03

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