quarta-feira, 20 de abril de 2011

``FOLHA DE SÃO PAULO`` RECONHECE,DÉCADAS DEPOIS,QUE COLABOROU COM A DITADURA E COLOCOU POLICIAIS NA REDAÇÃO DE UM JORNAL DO GRUPO

Amigos do blog, o texto espantoso que reproduzo abaixo e que, confesso, tinha me escapado, foi publicado na Folha de S. Paulo do dia 19 passado sobre os 90 anos do jornal.




Sob o título “Os 90 anos da Folha em 9 atos”, é um resumo, a cargo do competente jornalista Oscar Pilagallo, no qual a Folha pela primeira vez assume a sua colaboração com a ditadura, algo que os meios jornalísticos sabiam de sobra na época, mas que o jornal, hoje palmatória do mundo e dono da verdade, nunca assumiu.  
 
Com uma confissão que, repito, muitos jornalistas conheciam na época, mas que hoje soa inacreditável: a empresa entregou a hoje extinta Folha da Tarde diretamente a agentes da repressão (inclusive colocando meganhas na redação), para, supostamente, reagir à “inflitração” da organização armada Aliança Libertadora Nacional (ALN) e de seu dirigente, Carlos Marighella, no jornal.




Quer dizer que, para rebater uma suposta infiltração da extrema esquerda totalitária, a empresa que edita a Folha de S. Paulo adotou a espantosa, desatinada decisão de entregar a edição da tarde para agentes d                        
                                                                                                                          
 
os órgãos de segurança, que agora chama eufemisticamente de “jornalistas entusiasmados com a linha dura militar”!




Que jornalistas, cara-pálida??? Amigos e colegas que trabalham no grupo Folhas na época podem atestar quem e como eram.



A Folha também reconhece, candidamente, que se submeteu à censura e às proibições do regime, “ao contrário do que fizeram o Estado [o jornal O Estado de S. Paulo], a revista VEJA e o carioca Jornal do Brasil, que não aceitaram a imposição e enfrentaram a censura prévia, denunciando com artifícios editoriais a ação dos censores.”



Ao lado de meu espanto, devo registrar aqui a honestidade da atual direção do jornal em reconhecer, ainda que tardiamente, esses fatos.



Leiam o trecho do texto em que se narra a atitude do jornal diante da ditadura, e tirem suas próprias conclusões:



“4 – O PAPEL NA DITADURA



A Folha apoiou o golpe militar de 1964, como praticamente toda a grande imprensa brasileira. Não participou da conspiração contra o presidente João Goulart, como fez o Estado, mas apoiou editorialmente a dita



dura, limitando-se a veicular críticas raras e pontuais.



Confrontado por manifestações de rua e pela deflagração de guerrilhas urbanas, o regime endureceu ainda mais em dezembro de 1968, com a decretação do AI-5. O jornal submeteu-se à censura, acatando as proibições, ao contrário do que fizeram o Estado, a revista VEJA e o carioca Jornal do Brasil, que não aceitaram a imposição e enfrentaram a censura prévia, denunciando com artifícios editoriais a ação dos censores.



As tensões características dos chamados “anos de chumbo” marcaram esta fase do Grupo Folha. A partir de 1969, a Folha da Tarde alinhou-se ao esquema de repressão à luta armada, publicando manchetes que exaltavam as operações militares.



A entrega da Redação da Folha da Tarde a jornalistas entusiasmados com a linha dura militar (vários deles eram policiais) foi uma reação da empresa à atuação clandestina, na Redação, de militantes da ALN (Ação Libertadora Nacional), de Carlos Marighella, um dos ‘terroristas’ mais procurados do país, morto em São Paulo no final de 1969.



Em 1971, a ALN incendiou três veículos do jornal e ameaçou assassinar seus proprietários. Os atentados seriam uma reação ao apoio da Folha da Tarde à repressão contra a luta armada.



Segundo relato depois divulgado por militantes presos na época, caminhonetes de entrega do jornal teriam sido usados por agentes da repressão, para acompanhar sob disfarce a movimentação de guerrilheiros. A direção da Folha sempre negou ter conhecimento do uso de seus carros para tais fins.”  
 
FONTE : http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/folha-de-s-paulo-reconhece-que-colaborou-com-a-ditadura-e-colocou-policiais-na-redacao-de-um-jornal-do-grupo/ 01/03/2011


às 20:01

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