sexta-feira, 16 de abril de 2010

CURSO DE LOCUÇÃO À DISTÂNCIA.SERIA O FIM ?



Curso de locução à distância. Seria o fim?

Uma das distorções da nossa profissão, o ensino de locutores à distância parece fazer sucesso, pelo menos na web, onde várias “escolas” se propõe à ensinar a arte de comunicar no rádio. O que é muito difícil de fazer ao vivo, torna-se impossível via internet ou correios. Mas nada que intimide os mercadores de ilusões. Nesse caso, vamos à passos largos rumo à mediocrização da profissão de radialista, onde indivíduos completamente despreparados, mas com DRT, se habilitarão como “a nova geração de locutores”.

Leia e reflita:

- Um curso de radialismo sem ser presencial NÃO PREPARA de forma satisfatória nenhum locutor.

- Correção de dicção, postura, interpretação, respiração entre outros só pode ser realizado AO VIVO. Uma avaliação somente com o áudio é extremamente comprometida. É a mesma coisa que avaliar um ator somente pelo som: JAMAIS DARÁ CERTO.

- Locução não é apenas abrir a boca e falar palavras na sequência. Existem técnicas que somente são aprendidas se a correção for IMEDIATA, em uma relação aluno/professor.

- Não há o menor controle sobre a qualidade da gravação fornecida pelo aluno. A mp3 pode ser feita em um microfone caseiro, desses de 5 reais. Isso INUTILIZA qualquer avaliação séria sobre o aluno.

- Curso à distância não coloca o aluno em contato com a realidade no ar, como mesas, microfones, fones e softwares. Não o faz INTERAGIR com o ouvinte. Como esse locutor vai enfrentar uma primeira experiência REAL no estúdio pela primeira vez após um curso desses?

- Em QUAL equipamento o aluno é avaliado?

Pergunto novamente: Seria o fim ou estou sendo muito dramático? Qual a sua opinião?
Panela velha é que faz comida boa.



Jojo Kincaid é um dos melhores locutores de rádio americano. Começou em 1970 e na época desse vídeo, já tinha em suas costas 17 anos de profissão (hoje está na q105 em Tampa, na Flórida). Feche os olhos e tente separar o áudio da imagem de tiozão, com esse bigodinho de pornochanchada e com certeza ouvirá um excepcional talento.

Uma de suas características marcantes é a mudança na velocidade e modificações sutis na voz, adaptando-se ao ritmo e timbre da música. No Brasil, vamos falar sério, o que não falta é locutor no piloto automático, desanuciando a música de forma robótica, sempre da mesma maneira. Eu NUNCA ouvi uma locução desse tipo em qualquer rádio brasileira. Ok, existem exceções que podemos contar em dois ou três dedos.

Pode-se argumentar que o idioma inglês é mais dinâmico que o nosso ou que o estilo musical permite uma intervenção mais arrojada. Não acredito. Acho o português perfeitamente adaptável à esses “malabarismos” e existem inúmeras músicas ritmadas e ideais para criar o mesmo ambiente que vemos no filme, só para citar dois exemplos, Black Eyed Peas e Lady Gaga.

O que você acha que falta ao locutor brasileiro? Criatividade? Audácia? Porque existem tão poucos que imprimem uma personalidade própria à sua voz? Talvez seja mais fácil parecer um clone do que criar um estilo particular.

Igualmente impressionante é a vontade de estar no ar. Você sente como Jojo Kincaid está compromissado com sua profissão e com a marca que representa. Não é à toa que a maioria faz locução EM PÉ em rádios pop nos Estados Unidos. Quantas vezes você já flagrou algum locutor no horário de trabalho, sentado como se estivesse em uma poltrona, quase deitado, com os pés descançando sobre uma mesa, falando ao telefone, com a música no volume mínimo (“Para não atrapalhar”) como se não estivesse no ar? Talvez você até seja algum praticante desse hábito.

Na verdade, 100% dos melhores locutores estão 100% ligados e concentrados na sua operação de mesa e/ou software. Sentem a energia da música o tempo todo. Estão um passo à frente em como vão interagir com os ouvintes ou vender uma promoção, sem contar que mentalmente já se inseriram na plástica, escolheram a trilha e a vinheta de saída e tudo que vai fazer a programação fluir de forma dinâmica. O melhor profissional já antecipou sua próxima intervenção no ar, nos mínimos detalhes, e depois que tudo acabar, volta à estaca à zero para a sua próxima participação.

A sensação de ver esse vídeo é que o locutor sempre procura uma forma diferente de entrar no ar, se misturar à música ou usar a mesma vinheta de uma nova maneira. Bingo! Falta isso nos profissionais de hoje. Não existe a procura do novo, nem que seja o novo dentro da rotina diária. Então um dia sempre será igual ao outro e assim sucessivamente. O único problema é que esqueceram de combinar com o ouvinte e lembrar que ao passar a sensação de monotonia, algum tempo depois sua audiência poderá migrar para o seu concorrente.

Vamos lembrar ainda que esse vídeo provavelmente foi feito em 1987 (de acordo com a ótima música que abre – Cameo – Word up), ainda no tempo das cartucheiras, ou seja, não quero nem pensar o que ele faria com a tecnologia disponível hoje.

Último ponto: Tenham em mente que juventude é estado de espírito. Aposto que o coroa tem mais fôlego no ar do que boa parte dos profissionais que eu ouço nas emissoras do país. Provavelmente se eu mostrasse apenas o áudio, a maioria jamais desconfiaria que o homem atrás do microfone tem um visual mais parecido com vendedor de seguros ou contador do que locutor de rádio.

Pergunta para pensar hoje à noite: E você, o que poderia fazer para melhorar a sua peformance no rádio?

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fonte: http://gabrielpassajou.com

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