200 Anos de Imprensa no Brasil: Primeiro furo da imprensa brasileira veio de caique
Em 16 de junho de 1.808 um grupo de 18 pessoas, a maioria pescadores, de Olhão, município costeiro do Algarve, embarcou num caiaque com o único objetivo de atravessar o oceano para levar a Dom João VI a boa nova da expulsão dos franceses da região, primeira baixa sofrida pelas tropas de Napoleão
em território Luso. O episódio não é referência histórica no Brasil, mas é lembrado pelos portugueses que, nessa data (16/6), costumam comemorar o heroísmo dos nativos da cidade, uma epopéia e tanto, segundo os relatos de seus protagonistas e de autoridades da época, nos documentos hoje existentes na Biblioteca Nacional de Lisboa. E o que tem a ver essa viagem com os primórdios de nossa imprensa? Muito. Foram esses homens que possibilitaram à Gazeta do Rio de Janeiro, nas suas edições de 24 e 28 de setembro do referido ano, publicar as primeiras reportagens (cabe aqui a palavra considerando o espírito da narrativa) sobre a retomada do território pátrio, já que o público alvo do jornal era o português aqui residente, pelas circunstâncias da fuga, em decorrência da ocupação de seu país por tropas forâneas. Furo e repercussão
Quando os marítimos de Olhão partiram numa embarcação primitiva para uma odisséia no mar, queriam apenas levar e entregar a Dom João VI uma carta do Juiz da Alfândega de Faro narrando as circunstâncias da sublevação dos lusos e a expulsão dos franceses. Não sabiam eles que o Brasil já tinha imprensa e que esse documento e outros menos detalhados, seriam a matéria prima para Frei Tiburcio, redator da Gazeta, informar os leitores do jornal sobre o episódio. Foi sem dúvida o primeiro grande furo da imprensa brasileira, de fato uma noticia de impacto que deve ter repercutido em todos os lares da corte e sua comitiva no Rio de Janeiro. Um furo mais importante ainda que a “capitulação” dos franceses após o tratado de Cintra, noticiado pela Gazeta em dezembro/1808, esta sim uma notícia esperada, previsível por quem acompanhava, edição a edição, a retomada de cada cidade e território. O jornal não apenas transcreveu as noticias como destacou o feito: “armaram um caiaque por não terem outra embarcação para cumprir este encargo, e é bem para admirar a afoiteza da equipagem que se arriscou até este porto em tão pequeno e frágil barco. Os papeis que trouxe foram apresentados no número precedente, menos a participação do Juiz da Alfândega que reservamos para o fim para mostrar de um só golpe de vista o epítome de todas as circunstâncias espalhadas pelas outras peças”.
Guiados pelas estrelas
Caiaque era uma embarcação primitiva a vela de dezoito metros de cumprimento por cinco de largura, utilizada para pesca. As possibilidades de atravessar o oceano com sucesso eram mínimas. Mesmo assim os homens de Olhão aventuraram-se ao mar, guiando-se pelas estrelas e as correntes marítimas, ao sabor do vento; portavam um mapa rudimentar. Dom João VI reconheceu-lhes o heroísmo, elevou Olhão à condição de Vila e recompensou os pescadores. Já a história brasileira até hoje não se deu conta que o caiaque Bom Sucesso, que esse era o nome da embarcação, foi portador do primeiro grande furo da história da imprensa brasileira. É claro que a noticia poderia ter sido enriquecida se os relatos dos pescadores fossem aproveitados, mas ouvir a plebe (marítimo costumava ser analfabeto e pobre) não era hábito dos regimes monárquicos, naquele tempo. FONTE : http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/
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