sábado, 1 de maio de 2010

No Dia do Jornalista a lembrança da morte de Líbero Badaró




No dia 07 de abril comemora-se o Dia do Jornalista. A data é referência à abdicação do trono por dom Pedro I, após um grande desgaste político que teve como elemento de combustão o assassinato de Líbero Badaró, redator do “Observador Constitucional” em 20 de novembro de 1.830. Crime de mando atribuído diretamente ao juiz corregedor Cândido Ladislau Japiaussu, mas, segundo alguns órgãos da imprensa liberal oposicionista, por encomenda do Palácio. Para resumir a história: o crime chocou a opinião pública, mobilizou a imprensa de todo o país, as autoridades deram fuga ao corregedor para evitar o linchamento (mais tarde absolvido por falta de provas, num júri suspeito). E o Imperador que já sofria um processo de desgaste junto ao ministério teve de abdicar do trono em 07 de abril de 1.831, em favor de seu filho.
As circunstâncias
Há nuances que me chamam a atenção nesta história. Primeiro a instituição da data, por iniciativa da Associação Brasileira de Imprensa-ABI, no contexto de uma ditadura. O Dia do Jornalista foi instituído em 07 de abril de 1931, ou seja, nos primórdios da revolução quando o Governo Vargas, exercia forte repressão contra a imprensa, delegando autonomia a autoridades policiais para avaliar o conteúdo da mídia. Política de delegacia de esquina que prevaleceu até a consolidação do Departamento de Imprensa e Propaganda-DIP e a montagem de uma rede de censores, nos moldes do fascismo italiano, que o inspirou. Por que Getúlio concordou em instituir uma data que lembra justamente a repressão do Estado contra a imprensa? Libero Badaró foi morto por que seu proselitismo em favor da liberdade de expressão incomodava o regime. Há uma contradição nessa iniciativa da ABI, encampada pela ditadura.
Também chama a atenção as circunstâncias do assassinato de Líbero Badaró. Foi morto a mando da autoridade que representava o braço judiciário. Morte anunciada. Badaró tinha publicado no seu jornal o “recado” de amigos sobre as intenções do corregedor. Mas nada disso intimidou a autoridade que fez valer os seus maus bofes, contratando sicários estrangeiros para executar a tarefa. Apostou na impunidade, na retaguarda palaciana, ao mesmo tempo minimizando o poder de mobilização da opinião pública pela imprensa. A morte do jornalista provocou uma corrente de indignação (o regime tinha ido longe demais) repercutida não apenas pela mídia de oposição (Observador Constitucional em São Paulo, Aurora Fluminense no Rio de Janeiro, Universal em Minas Gerais e O Bahiano de Antônio Rebouças na Bahia), mas por toda a imprensa. Dom Pedro I amargou vaias e protestos nas suas aparições públicas.
Sobre os abusos
Nuances aparte, vale lembrar nesta data as palavras de Badaró sobre a liberdade de imprensa, um recado no túnel do tempo para Dilma Russet e José Serra; ambos os candidatos em declarações recentes atacaram a imprensa, incomodados com a difusão de notícias e opinião de alguns veículos. Falaram em abusos, palavra de ordem para qualificar eventuais exageros, reais ou figurados, sempre no intuito de intimidar. Líbero Badaró, a propósito escreveu: “Incapazes de resistir à evidência dos argumentos positivos sobre que se apóia a necessidade de imprensa, os amigos das trevas se vestem da capa da moral e do sossego público, apontam os abusos desta liberdade, a calúnia, a difamação, as provocações diárias, os achincalhes continuados, que tornam a vida um suplício. E, meu Deus! Os abusos? E do que se não abusa neste mundo? Forte raciocínio! E porque se abusa de uma qualquer coisa, já, já suprima-se?
E aonde iríamos com estas supressões?”“Um mau juiz abusa do seu ministério: suprima-se a magistratura; um mau sacerdote abusa da religião: suprima-se a religião; um mau marido abusa do matrimônio: suprima-se o matrimônio. Forte raciocínio, dizemos outra vez! Suprimam-se os abusos que será melhor. A lei contra os abusos existe; sirvam-se dela; e se não é boa, faça-se outra; e liberdade a todos de esclarecerem os legisladores, pela imprensa livre”.
FONTE : http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/blog/

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