terça-feira, 18 de maio de 2010

200 Anos de Imprensa no Brasil:O impacto da máquina de escrever nas redações



200 Anos de Imprensa no Brasil:O impacto da máquina de escrever nas redações

Em fevereiro de 1912 o Jornal do Brasil adquiriu três máquinas de escrever, o primeiro passo para substituir as canetas bico de pena, processo este concluído muitos anos depois diante das reações de veteranos jornalistas que não abriam mão do hábito de escrever a mão. Alguns daqueles senhores conheciam o equipamento, disponível na Casa Pratt e outras lojas especializadas, há mais de uma década, naquele tempo usado apenas nas repartições públicas, escritórios de advocacia e, a julgar pelos apelos de venda dos anúncios publicados em jornais e revistas, também em alguns lares. Os reclames insistiam na praticidade de se escrever cartas numa máquina das marcas Royal ou Remington.

Mas, o uso de esses “incômodos” aparelhos de ferro nas redações não era cogitado. É desconcertante imaginar que a tecnologia da máquina de escrever tenha demorado tanto a ser assimilada pelas redações, considerando que o seu uso efetivamente foi popularizado no final da década de 20. Afinal, o invento estava disponível no país, desde a última década do século XIX e o teclado “infernal” que assustava os jornalistas com a sua incompreensível combinação de letras já era realidade nas oficinas desde a introdução do linotipo. Ou seja, durante muitos anos não houve a correlação de tecnologias que seria recomendável para agilizar os processos de pré-impressão. O jornalista escrevia a mão e o linotipista que muitas vezes era obrigado a interpretar garranchos, fazia a digitação mecânica. Redatores mais experientes sentavam-se ao lado do linotipista e ditavam o seu texto de cabeça; as correções feitas, ali mesmo, na hora.


Teclado duplo
Mas o que apavorava aquela geração era efetivamente o teclado, o tal sistema QWERTY (repare a seqüência no teclado de seu computador), inventado por um sujeito com esse nome (funcionário da Remington) e a outra série embaixo, ASDFG, supostamente as letras, então, mais usadas no idioma inglês. O fato é que enfiaram o QWERTY na gente de tal jeito que o teclado do computador (criado um século após o original) não teve como fugir da regra e ainda hoje utiliza o sistema. Para aquela geração abandonar o hábito da caneta de bico de pena significava aprender técnicas de datilografia. Para piorar as coisas é possível que as três máquinas de escrever adquiridas pelo JB tenham sido ainda do modelo de dois teclados, um para as maiúsculas, outro para as minúsculas, equipamentos muito mais complexo do que a máquina de escrever que prevaleceu até a década de 80.

O uso de máquinas de escrever na redação do JB fazia parte das reformas implementadas pelo jornal desde o aporte de capital do Conde Pereira Carneiro que já era sócio (minoritário) quando da inauguração da nova sede em 1910. Na década seguinte tornava-se proprietário (comprava as hipotecas não resgatadas). Foi também num contexto semelhante, de uma reforma estrutural, que a Folha de São Paulo adquiriu em 1983 os primeiros computadores para substituir as antes rejeitadas e naquele momento imprescindíveis máquinas de escrever. O objetivo era o mesmo, compatibilizar os processos de pré-impressão, tanto que uma vez consolidada a mudança, alguns anos depois, a Folha calculava em 40 minutos o ganho de tempo. E tempo já era moeda calculada pelo departamento industrial e a expedição.

Transição rápida
Mas, para os jornalistas o computador por algum tempo continuou a ser uma máquina de escrever, só que mais evoluída e com o mágico recurso da correção de texto. As redações tornaram-se mais silenciosas e ficaram mais limpas, sem o característico amontoado de papel amassado no chão e nas lixeiras. Desta vez a transição que foi tão ruidosa quanto a provocada pelos teclados de ferro, em idos remotos, se deu em tempo recorde. E as máquinas de escrever deixaram as redações para se perpetuarem nas vitrines dos museus, ou nos álbuns de fotografias, lado a lado com outras tecnologias aposentadas: o disquete, por exemplo que já saiu de cena. Você ainda lembra dele? FONTE : http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/blog/?cat=4&paged=4

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