terça-feira, 18 de maio de 2010

O IMPACTO DO ZEPPELIN NA MÍDIA BRASILEIRA



O impacto do Zeppelin na mídia brasileira


O sonho de voar feito realidade esteve longe de nós, com exceção da histórica viagem ao mundo do Graf Zeppelin em maio de 1930 que milhares de brasileiros testemunharam de perto. É que acompanhamos as façanhas dos primeiros balonistas no final do século XIX e dos inventores do avião (Santos Dumont e os irmãos Wright) na primeira década do século XX através das revistas, num tempo cronológico distante dos acontecimentos; fatos estes que repercutiram apenas numa camada social privilegiada.

Muitos anos depois acompanhamos, também através da mídia, a chegada do homem na lua, um acontecimento muito distante de nós, porém de maior impacto graças às imagens em tempo real geradas pela TV. Os protagonistas deste momento histórico estavam no espaço e a equipe que viabilizara a façanha sediada em Houston. A nossa relação com o balão, o avião e o foguete foi apenas midiática.

Diferente foi a nossa relação com o Graf Zeppelin, o gigante voador de 128 metros de cumprimento, que aportou no Brasil em maio de 1930 enlouquecendo multidões que foram às ruas nas principais cidades brasileiras; milhares de pessoas, também, acompanharam a passagem da aeronave das janelas e sacadas de prédios e residências na rota do dirigível. O jornal O Estado de São Paulo empolgado com a repercussão enxergou no acontecimento um bom remédio contra o estresse: “A impressão causada pela travessia produz um bem-estar tão grande que deve ser empregada como cura da neurastenia”.

Exageros a parte a mídia registrou a passagem do Zepellin através de textos grandiloqüentes e muitas fotos; algumas delas hoje podem ser apreciadas nas bibliotecas e arquivos públicos. A propaganda não deixou por menos e as agências programaram anúncios de oportunidade do Guaraná Antarctica (com o sugestivo título “Um gigante entre os gigantes”, Depurativo Luedy, Cinzano, Ovomaltine, tecidos Indanthren, baterias Barta, Agfa, dentre outros.


Encarte e cobertura

Nesse contexto duas revistas se destacaram: “Careta” que programou um encarte de 38 páginas encomendada pelo Sindicato Condor que administrava destinos postais e de transportes de passageiros de companhias aéreas e a “Revista da Semana” que estampou magníficas fotos do Graf Zeppelin sobrevoando cidades européias e uma ilustração de página dupla do artista plástico Umberto Della Latta que se permitiu imaginar o dirigível sobrevoando o Pão de Açúcar no Rio de Janeiro. Através de “Careta” ficamos sabendo que a conta do espetáculo saiu de nosso bolso, através de uma verba de 100 contos de reis que o erário disponibilizou com autorização do Presidente da República Dr. Washington Luiz.

A publicação nos informa também da infra-estrutura montada no Recife para abastecer o Zeppelin.Já a “Revista da Semana” destacou os antecedentes de viagens intercontinentais do dirigível, relevando a visita ao Brasil:” É este o dirigível que pela primeira vez vêm ao continente sul americano. O Brasil sabe estimar os esforços hercúleos do velho inventor e seus dedicados sucessores; sabe avaliar as dificuldades a vencer na viagem transatlântica, onde cada vento contrário prolonga o caminho por centenas ou milhares de quilômetros; sabe admirar a tenacidade de um país que, depois de uma guerra terrível em que sucumbiu, surgiu do túmulo e criou maravilhas científicas e técnicas quando tudo parecia perdido.

O Brasil sabe que o Graf Zeppelin é o símbolo dos pacifistas… Salve Graf Zeppelin! Que a rainha de maio te guie seguro até o pais que em recordação do seu filho adotou o nome de Terra de Santa Cruz”.Tempo depois do vôo histórico do Graf Zeppelin pelo Brasil a Companhia Condor viabilizou uma rota regular de transportes de passageiros e até construiu um hangar gigante cuja estrutura ainda existe. Resistiu ao tempo, às intempéries e ao salitre, nas proximidades da Baia de Sepetiba, tombado pelo Iphan. Memória viva da ancoragem da grande nave que segundo a mídia da época requeria 200 homens em pista com cordas para orientar a atracação. A passagem original do Graf Zeppelin nos céus do Brasil foi mesmo a nossa única relação próxima com o sonho de voar.


FONTE : http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/blog/?cat=4

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