terça-feira, 18 de maio de 2010

40 ANOS DA TV EM TEMPO REAL



40 anos da TV em tempo real

Em 28 de fevereiro de 1969, quarenta anos transcorridos no último sábado, o mundo ficava mais perto do Brasil que, então, ingressava na era das telecomunicações via satélite. Um marco referencial na história da televisão com grande repercussão na época apesar do minguado entusiasmo dos telespectadores e mesmo dos proprietários das emissoras de TV que apenas enxergavam a planilha de custos do novo sistema. Custos elevados que a publicidade não podia pagar e isso não era previsão, mas fato consumado: as agências de propaganda não conseguiram vender uma cota sequer para cobrir os 750 mil cruzeiros novos desta transmissão pioneira.

O fato é que na referida data os brasileiros assistiram ao “vivo”, via satélite, as palavras de saudação de Sua Santidade o Papa Paulo VI, gravadas na véspera, num português bem ensaiado. E logo em seguida cenas de um jogo do Juventus, também gravado e editado, estratégia das emissoras para chamar a atenção sobre as possibilidades do satélite, de olho na Copa do Mundo a ser realizada no ano seguinte. Encerrando a transmissão era exibido, direto de Washington, um documentário sobre a História das Comunicações.


Mas, nem tudo foram cenas gravadas em video-tape. O repórter que as apresentava, Hilton Gomes, esse sim falava em tempo real, direto de Roma, postado em frente ao Coliseu; então destacava o momento histórico: “Esta é a primeira reportagem internacional via satélite para o Brasil, inaugurando oficialmente, o Intelsat III, numa transmissão em cadeia para todo o país, comandada pela Embratel”. O fato era maior do que o resultado, já que o telespectador não percebia nenhuma diferencia do ponto de vista de qualidade da imagem. E se as circunstâncias acenavam para a idéia de um jornalismo mais ágil com maior incidência do noticiário internacional, logo a realidade dos custos elevados e da geração, operação e distribuição de conteúdos, através de um colegiado, encarregava-se de esfriar os ânimos.

O grande cilindro

A revista Veja, edição de 5 de março de 1969, em matéria de capa intitulada “O mundo em sua casa”, já previa esse desencanto em torno da novidade: “O mundo começou a ficar menor para os brasileiros desde sexta feira passada, quando as imagens de Paulo VI e cenas de Washington e Roma chegaram a nossos aparelhos de TV. Para as emissoras de TV, a alegria tinha, porém, o seu lado de sombra: eles bateram recordes de audiência e ao mesmo tempo se interrogaram se poderiam utilizar sempre esta maravilha, tão cara… As emissoras estão apáticas em relação ao satélite, não tem planos para ele, salvo para as transmissões da Copa do Mundo, no México. E na verdade seus sonhos são mais modestos: deverão falar antes para o resto do país antes de se entender com o mundo… O grande cilindro brilha no céu, mas a experiência ensina que os problemas se resolvem, antes de mais nada, em terra firme”.

O grande cilindro referido pela publicação era um satélite que flutuava a 36 mil km de altura sobre as costas do Ceará, ligando a estação de Itaboraí (RJ) aos 63 países que então integravam o consórcio Intelsat. O Brasil era um dos primos- pobres, signatários do Comsat que administrava o satélite, com 1,5 das ações. 55% do capital era americano, 25% dos países Europeus e 20% de países latino-americanos e asiáticos, todos alinhados com Washington. E se um muro em terra separava o mundo em duas bandas, no céu não era diferente: os russos constituíam o Intersputnik, consórcio com 14 países filiados.

Com 1,5% do capital constituído, nenhuma influência na administração (todos os diretores eram americanos) e praticamente nada para exibir ao mundo (a Veja ponderava “a não ser os festivais de canção e grandes jogos de futebol”), o Intelsat III na prática seria um elefante em casa de porcelana, salvo na histórica transmissão da chegada do homem na lua em 20/07/69 e na cobertura da Copa do Mundo, no ano seguinte, eventos que justificaram a sua existência.

Apenas simbólica

De modo que a primeira transmissão via satélite da TV brasileira (1969) teve uma importância apenas simbólica, assim como a primeira transmissão a cores (1972) e em tempos recentes (2007) a primeira transmissão digital. Marcos referenciais de uma nova tecnologia, mas sem nenhum impacto junto à audiência. Cinco anos se passariam para que o Brasil realmente ficasse integrado ao mundo em tempo real. Somente em 1974 nos livrávamos do SIN (Serviço Ibero americano de Noticias) e das ingerências políticas e administrativas do Comsat para receber, a preço de ouro, imagens via satélite da UPI.Muitas águas tinham corrido desde as imagens pioneiras de Roma e Washington. Nesse ínterim o Brasil instalara o seu sistema de telefonia em DDD e o conceito de rede nacional de TV já era uma realidade.

FONTE : http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/blog/?cat=4&paged=3

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