quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A INFLUÊNCIA DAS RÁDIOS INTERNACIONAIS NA EDUCAÇÃO DOS OUVINTES BRASILEIROS


Influência das rádios internacionais na educação dos ouvintes brasileiros
Segunda, 2007-01-01

A INFLUÊNCIA DAS RÁDIOS INTERNACIONAIS NA EDUCAÇÃO DOS OUVINTES BRASILEIROS(1)


Autor: Antonio Argolo Silva Neto(2)
Orientadores: Profº Ms. Gilson Ruy Teixeira(3); Profª Ms. Maria das Graças de Santana Rodrigué(4); Profº Ms. André Souza dos Santos(5)
Resumo:

Este estudo investiga a influência das rádios internacionais via ondas curtas na educação dos ouvintes brasileiros.
Baseia-se em pesquisa descritiva, qualitativa, mediante entrevista realizada com os sócios dos DX Clube do Brasil - DXCB.
Os dados apurados demonstram a sua contribuição educacional principalmente na época da Ditadura Militar. Atualmente, elas também detêm a primazia do conhecimento entre os ouvintes brasileiros:
contrastando as informações monopolizadas, divulgando modos de vida de países pequenos e culturas, que não passam necessariamente pelo crivo da indústria cultural, e que não estão disponíveis nos meios convencionais nem nas salas de aula.


Palavras-chave: Cultura; educação; sociedade; audiência brasileira; rádios internacionais.
Introdução:

Geralmente, sempre quando ouvimos falar em educação pelo rádio, fazemos uma rápida assossiação com a conhecida “rádio educativa” ou os cursos onde se acompanham as aulas através de materiais didáticos fornecidos por determinadas emissoras. E assim desconhecemos que o rádio é essencialmente um instrumento de educação, tal como diz Scheimberg (1997, p. 50): “Ao transmitir informação, ao comunicar significados, ele participa do processo sócio-cultural de grande parte da população do planeta, pelo que podemos dizer, efetivamente, que o rádio educa”.
Esta educação radiofônica torna-se cada vez mais evidente como um paradigma de inclusão social, onde os saberes formais já não dão conta do desenvolvimento humano na sua plenitude. Visto que, no mundo globalizado, vivemos em função das informações que se constituem em unidades de conhecimentos, influindo em nossa forma de ser e conviver socialmente. Afinal, segundo Costa (1962, p. 246):
[...] o maior mal que aflige a população não é o analfabetismo em si, mas a ignorância generalizada dos mais elementares conhecimentos necessários a uma vida sadia e condigna: a ignorância gera a doença e a doença gera a miséria. Nessas condições, o problema é, antes de tudo, de informações [...].
Hoje, a revolução da informática e do mass media, gradativamente ganha espaço na vida da sociedade, proporcionando maior rapidez no acesso às informações e na formação de opinião, mas o rádio ainda continua sendo um meio insubstituível para atingir, principalmente, as camadas populares... Então, em plena era de novidades tecnológicas, o que dizer da influência das rádios internacionais, via ondas curtas, na educação dos ouvintes brasileiros? Este foi o objeto de investigação desta pesquisa, desenvolvida para conclusão do curso de Pedagogia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Campus de Jequié – Bahia - Brasil. Cujo desfecho resultou numa monografia com mais de cem páginas, mescladas entre texto e ilustrações, proporcionando um resultado singular nessa abordagem.

Um pouco de história:

No início do século XX foi desenvolvido um modelo de transmissão radiofônico denominado Onda Curta (OC ou SW), cujo sinal projetado na ionosfera conseguia percorrer o mundo, superando tanto as barreiras geográficas como políticas. Logo as primeiras rádios internacionais em OC surgiram entre os países protagonistas, durante as guerras mundiais, objetivando ir além fronteira para transmitir suas ideologias a respeito dos conflitos.
Elas emitiam em dezenas de línguas e dialetos, visando atingir as colônias de emigrantes e o público estrangeiro nas diferentes regiões do mundo, inclusive o Brasil.
Com o fim dos conflitos, as propagandas de guerras abrem alas à cultura, variedades de informações, valorizando a cidadania e o desenvolvimento humano. E assim, essas transmissões tiveram um papel fundamental na educação e na propagação de saberes. A popularidade do rádio ultrapassava as elites, permitindo também a inclusão social do indivíduo que nunca freqüentou escola e que residia em local de difícil acesso.
No Brasil a radiodifusão internacional também deixou suas contribuições. Segundo Caparelli (1980), principalmente durante o período da Ditadura Militar, devido à censura e falta de acesso aos veículos nacionais (visto que a maioria das emissoras se concentravam nas metrópoles para se beneficiar do poder aquisitivo das massas consumidoras), por muito tempo, para se saber o que acontecia no próprio país muitos brasileiros recorriam à sintonia das rádios estrangeiras, que difundiam uma versão diferente daquilo que era divulgado oficialmente. Esse fato, inclusive, resultou nos reclames do governo ao Serviço Brasileiro da BBC de Londres, que denunciava na sua programação, os abusos dos direitos humanos perpetrados durante o regime político vigente no Brasil.
Proporcionalmente, mesmo com o declínio das emissões internacionais para o Brasil (que começou no final dos anos 80, provocada principalmente pelo êxodo rural e concorrência dos novos meios de comunicações de massa), atualmente muitas dessas rádios continuam transmitindo para o nosso país. Inclusive, sempre tem surgido investimentos técnicos, ampliações de programas e novas emissoras também passam a se interessar pela nossa audiência. Em 2003, até o governo brasileiro reativou a extinta Rádio Nacional do Brasil, criando uma programação em OC para a África e países de língua portuguesa. Só que, infelizmente foi desativada há pouco tempo.

Metodologia, universo e objetivo:

A pesquisa em questão é do tipo descritiva e de natureza qualitativa. Foi realizada entre 20/10 a 30/11/03, tendo como técnica a aplicação aleatória de um questionário com 15 perguntas entre os radioescutas sócios do DX Clube do Brasil (DXCB)6. Os entrevistados receberam em suas casas o questionário anexo ao boletim oficial do clube, sendo em seguida devolvido devidamente preenchido ao endereço do pesquisador.
Em torno da pesquisa existia todo um contexto de curiosidades: Diante da massificação tecnológica, o que leva os ouvintes a fugirem desta mídia disponível para escutar rádios de outros países através de um sistema de transmissão tradicional? Seria um mero passatempo? O que é que eles buscam nesses programas? Quais são as suas emissoras e programas preferidos? Quais as contribuições dessas rádios na formação de opinião e educação dos brasileiros? Essas são algumas das indagações que a pesquisa propôs a revelar.

Perfil dos ouvintes:

questionários foram respondidos por 22 pessoas (apenas uma do sexo feminino), correspondendo a uma amostragem de, aproximadamente, 31,4% do número total de sócios, na época da pesquisa. Os dados, coletados recaíram nas cinco regiões políticas do Brasil, respectivamente, Região Sudeste (50%); Sul (27,3%); Centro-Oeste (9,1%); Norte (9,1%) e Nordeste (4,5%). Desse universo, uma minoria reside nas capitais, enquanto os demais estão concentrados pelo interior dos Estados e apenas um reside na zona rural.



Gráfico 1 - Distribuição dos ouvintes pelas regiões políticas do Brasil.
A faixa etária dos entrevistados apresentou a seguinte classificação:
de 19 a 28 anos 18,2%,
de 29 a 36 anos 22,7%,
mais de 36 anos de idade 59,1%.
Quanto à atuação profissional notou-se funções bem diferenciadas: professor, biólogo, carteiro, engenheiro químico, artesã, motorista, estudante, engenheiro eletricista, mecânico, autônomo, agricultor, engenheiros agrônomo, jornalistas, aposentado, agente de viagem, técnico em contabilidade, em telecomunicações e em eletrônica.
No quesito grau de escolaridade, nota-se uma tendência significativa para a formação superior, representada por 45,5% dos informantes. Enquanto a formação fundamental apontou um percentual de 13,6% e nível médio 40,9%. Comparando com o total de entrevistados, 9,1% são pós-graduados com especialização e mestrado.
Curiosamente, o rádio também surge como campo de experimentação. Eis alguns trabalhos acadêmicos publicados sobre o assunto: livro (O que é rádio de Ondas Curtas); dissertação de mestrado (PUC/SP); monografia, artigos diversos; e pesquisa de iniciação científica (PIBIC/ CNPq e Universidade Estadual de Maringá - UEM - PR).
A compreensão de outros idiomas também é um aspecto relevante nos depoimentos. Segundo os entrevistados, esse fato está associado à escuta das emissoras internacionais e acesso aos cursos oferecidos gratuitamente por elas. Alguns ouvintes são descendentes de estrangeiros, outros são simpatizantes de determinados idiomas e utilizam o rádio para aprender ou aperfeiçoar o aprendizado lingüístico. As línguas mais utilizadas por eles são, nessa ordem de preferência: espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, polonês e grego.

O contato com o rádio:

O rádio internacional já faz parte do cotidiano desses ouvintes e obedece à seguinte audiência: 4,5% o sintoniza às vezes, 13,6% de uma a duas vezes por semana. Em contrapartida, a maioria (81,9%) escuta os programas mais de quatro vezes por semana, o que indica uma audiência significativa para uma emissora distante.
Porém, isso não quer dizer que esses radioescutas só utilizam o rádio para se informar. Eles revelaram que têm acesso a outros meios convencionais, mas a preferência pelo rádio se destaca. Assim, dos 22 questionários respondidos o rádio recebeu o mesmo número de indicações. Já livro, jornal e revista vêm em seguida com 19 indicações, a Internet vem um pouco distante com 17 e por fim a TV recebe a condição de 4º lugar com apenas 14 indicações. Nos depoimentos foi verificado que essa é uma resposta à má qualidade de programação televisiva.
Quanto ao tempo de escuta, notou-se a presença de muitos veteranos no hobby, bem como outros novatos que conheceram as ondas curtas a partir de 2000 (13,6%). Os dados apurados indicam que o maior nível de audiência aconteceu entre os anos 70 a 90 (22,7; 27,3 e 22,7%, respectivamente), justamente no momento em que a maioria das rádios transmitia em português. Desde o início dos anos 90 muitas rádios desativaram suas emissões para o Brasil, mas, relativamente, sempre surgem novas emissoras e novos ouvintes.
A pesquisa ainda revelou quais as rádios internacionais mais ouvidas pelos brasileiros. A lista foi elaborada obedecendo à quantidade de indicações de emissoras enviadas pelos ouvintes. No ranking na audiência aparecem estações da Europa, América, Ásia e África, cujos programas também são transmitidos, preferencialmente, em português, espanhol, inglês e francês.
Quadro 1 - As Rádios Internacionais mais ouvidas pelos ouvintes brasileiros:

POSIÇÃO EMISSORA
1º Lugar Rádio BBC Brasil (Inglaterra) [Esta desativou os programas em OC para o Brasil em 17/03/05]
2º Lugar Rádio Voz Cristã (Chile)
3º Lugar Rádio Internacional da China
4º Lugar Radio Nederland (Holanda)
5º Lugar Rádio Japão e Voz da Rússia
6º Lugar Rádio Exterior da Espanha e Rádio HCJB (Equador)
7º Lugar Radio Deutsche Welle (Alemanha) e RDP Internacional – Rádio Portugal
8º Lugar Rádio Voz da América (EUA) e Voz da República Islâmica do Irã
9º Lugar Rádio Bulgária, Rádio Canadá Internacional, Rádio Coréia Internacional (Coréia do Sul), Rádio Damasco (República Árabe da Síria), Rádio Eslováquia Internacional, Rádio Medi 1 (Marrocos), Rádio Praga (Republica Tcheca) e Rádio Vaticano.
10º Lugar Rádio Cairo (Egito), Voz da Armênia, Rádio Taiwan Internacional, Voz da Croácia, Voz da Grécia, Rádio Mundial Adventista (EUA), Rádio Trans Mundial (Brasil), Rádio Marti (EUA), RAI Internacional (Itália), Rádio Católica Mundial (EUA), Rádio Havana Cuba, Rádio Romênia Internacional e Rádio França Internacional.

Fonte: pesquisa de campo, 2004.
Relativamente, essas são as rádios mais fáceis de serem captadas no território brasileiro. No entanto, essas informações não estão atualizadas se levarmos em consideração ao período da coleta de dados, que aconteceu nos meados de 2003.

A influência das Rádios Internacionais:
Apesar da tendência pejorativa, o uso da palavra “influência”, neste estudo, não atribui aos ouvintes a condição de passividade, mas de sujeitos críticos que se apropriam dos conteúdos radiofônicos para o desenvolvimento cultural e humano. Nessa intenção, quando foi indagado o porquê da preferência pela sintonia internacional, verificaram-se idéias interessantes, sintetizadas nos tópicos a seguir:



a) Informação Alternativa, versão dos fatos: como a imprensa brasileira tende reproduzir os interesses dos EUA e do Ocidente, as emissoras internacionais permitem acompanhar versões antagônicas, a informação direta do local do acontecimento e comparação dos fatos.
b) Fuga da má qualidade das TVs: crítica à programação apelativa da TV brasileira e sua reprodução ideológica da religião, política e economia. Esse desprezo pela boa qualidade dos conteúdos instiga o ouvinte a buscar outras fontes de informação, cultura e entretenimento nas emissões internacionais.
c) Campo de experimentação: os afazeres do Dexista se constituem numa atividade científica, seja documentando informações, testando hipóteses, aperfeiçoando métodos etc. Muitas dessas experiências resultam na ascensão ao universo científico.
d) Ouvir boa música e culturas exóticas: crítica à mídia brasileira que não se preocupa com a cultura em si, mas com o retorno financeiro e político que ela pode proporcionar. Num país onde a maioria da população vive sem as mínimas condições de desenvolvimento a música e a expressão humana é utilizada como instrumento de manipulação das massas. Como as rádios internacionais não sobrevivem do mercado publicitário grande parte da sua programação é projetada para conteúdos educativos, musicais e culturais valorizando o que cada país tem a oferecer.
e) Aprender idiomas: as emissoras internacionais possibilitam ao ouvinte aprender uma variedade de línguas através de cursos radiofônicos ou de forma autodidata. O fato de estar sempre ouvindo e escrevendo, também permite que ele se interesse pela linguagem do país e aprenda a pronunciá-la ouvindo o rádio.
f) Geopolítica: os ouvintes demonstraram aprendizado significativo sobre a conjuntura política mundial e aspectos geográficos: localização, modo de vida, economia, culturas, tradições populares etc. Segundo eles, essas informações são escassas na mídia brasileira ou, às vezes, limita-se a dados enciclopédicos. Ouvindo emissoras da China, Egito, Irã etc, por exemplo, pode-se ter dados atuais e contextualizados, que extrapola o que já sabemos sobre a civilização antiga.
g) Prazer de ouvir rádio: muitos ouvintes demonstraram gostar de ouvir rádio e quando o faz, junta-se o útil ao agradável.
Enfim, a maioria absoluta dos entrevistados afirma a importância das rádios internacionais na formação de opinião e cultural. Eles citam como exemplo as potencialidades que as OC oferecem: a possibilidade de aprender algo novo, conhecer países exóticos, culturas, esclarecer concepções equivocadas sobre determinadas nações, conteúdos educativos e, sobretudo, as versões dos fatos internacionais que são omitidos pela imprensa brasileira e Ocidental.
Ainda sobre as influências das emissoras, um dos entrevistados chega a afirmar: “Claro, pois somos uma aglomeração das informações que nos chegam e passam pelo nosso crivo de avaliação pessoal”. Recorrendo às idéias de Vigostky apud Oliveira (2002), percebe que a relação do homem com o meio social é uma relação mediada. Sendo que, para proporcionar o desenvolvimento e a evolução da própria espécie, o ser humano precisou recorrer aos instrumentos e signos.
O rádio de OC é justamente isso, um instrumento de mediação de valores culturais representados pelos signos, linguagens e conhecimentos, expressos nos seus programas, que permite ao ouvinte construir a sua concepção de mundo a partir da percepção e interpretação daquilo que ouve.



Quanto à avaliação da qualidade dos programas sintonizados, os ouvintes atribuem os seguintes adjetivos: 41% dos informantes classificam como bons; 22,7% como muito bom; 9,1%, respectivamente, como ótimos e excelentes; já 4,5% excepcionais e alto nível; enquanto 9,1% não emitiram opinião a respeito.
Ainda acrescentam elogios sobre a variedade e qualidade dos programas, que além de enriquecer seus conhecimentos também são diferentes do que se ouvem nas rádios brasileiras. Um ouvinte destaca a versão dos fatos de países pequenos e conteúdos excepcionais, como é o exemplo de programas filatélicos, que só existe nas rádios internacionais. Enquanto outros preferem ser mais críticos, seja apontando que as rádios governamentais tendem a serem parciais enquanto o país de emissão está envolvido em conflito; seja destacando que os comentários políticos e econômicos são sempre a favor do país da emissora, seja criticando concepções fundamentalistas em alguns programas religiosos.



Na lista de programas mais apreciados pelos entrevistados aparecem os seguintes gêneros:
1) Dexismo (incluindo mídia, ciências e tecnologia);
2) notícias;
3) música (incluindo folclórica e erudita);
4) artesanato e cultura;
5) história e folclore;
6) programas de cartas dos ouvintes;
7) turismo, vida cotidiana e informações sobre o país;
8) política;
9) documentário;
10) economia;
11) esporte;
12) palestras religiosas;
13) meio ambiente;
14) entretenimento;
15) culinária;
16) educação.
(Cartão QSL “Cerâmica chinesa decorada com flores”, Rádio Taiwan Internacional - Taiwan)
Algumas surpresas... As músicas também têm o seu lugar na audição dos ouvintes pesquisados! Foi citada a preferência de canções folclóricas, clássicas, gregas, africanas, andinas, chinesas, portuguesas e árabes. Revelando que, tais emissoras não ficam só no verbalismo, mas proporcionam uma programação diversificada que agrada os gostos dos seus ouvintes. Alguns admitem que depois de ouvirem as ondas curtas internacionais, naturalmente, também passaram a valorizar mais a riqueza cultural existente no Brasil.
Já a segunda surpresa está relacionada à associação dos programas com as atividades práticas do cotidiano. Assim, notou-se que os jornalistas sempre preferem ouvir documentários, notícias, comunicação, mídia e Dexismo. O agricultor: economia, folclore e ecologia. O biólogo: meio ambiente. Enquanto a artesã e dona de casa admite que gosta de cultura, folclore, artesanato, música e culinária. A entrevistada ainda afirmou que anota as receitas nos programas de culinária e depois prepara os pratos para a família que acha “uma delícia”.
Contudo, a pesquisa ainda constatou que o aprendizado dos ouvintes não se limita apenas na escuta dos programas, mas também nos materiais que as rádios enviam pelo correio. Eis alguns itens: revistas, livros, CDs, fitas K7, cursos de idiomas, materiais de divulgação, postais, jornais, QSLs, selos, folhetos turísticos, mapas, artesanatos etc.
De fato, esses materiais possuem um valor pedagógico interessante. Além de estimular a audiência, também são de grande importância para enriquecer os conhecimentos culturais e preencher a lacuna existente entre a audição e o visual. Pode citar como exemplo os cartões QSLs, que são impressos pela própria emissora para confirmar o recebimento do informe de recepção. Se olharmos para eles com maior atenção, veremos que a maioria revela um pouco da história, beleza cultural e ideológica dos países de origem.

Conclusão:

A socialização do saber e as relações sociais nunca foram tão intensas como nos dias atuais. E a radiodifusão internacional via OC tem uma grande contribuição nesse processo. A sua presença foi imprescindível, nos primórdios, como percussora na difusão de conhecimentos, e atualmente quando ainda supera os demais meios, favorecendo a propagação de informações que não passam necessariamente pelo crivo da cultura de massa. Mesmo com a proliferação da mass media, que permite uma qualidade técnica superior, não resta dúvida que poder educacional dos programas para o exterior via OC ainda é relevante.
Em nossos dias, as rádios internacionais ainda detêm a primazia da mídia alternativa entre uma minoria da audiência brasileira: contrastando as informações eurocêntricas e americanizadas, possibilitando ao ouvinte conhecer os modos de vida de países pequenos ou isolados politicamente, bem como, acessar uma variedade de informações culturais que não estão disponíveis em nenhum meio convencional, nem nas salas de aulas.
Por isso, muitos países, que desativaram as suas emissões para o exterior estão repensando sobre sua manutenção. Da mesma forma, desde 2004 novas experiências de estações internacionais têm sido realizadas no Brasil visando a viabilidade da OC digital (Digital Radio Mondiale – DRM). Esse novo sistema não pretende suplantar a OC analógica, mas aperfeiçoá-la, através de ferramentas que possibilite uma recepção com boa qualidade técnica, além de outros recursos interativos. Certamente, também cativará o ouvinte brasileiro a permanecer plugado na sintonia internacional.
Embora essa audiência ainda represente um percentual pequeno em comparação com a população brasileira, por outro lado não deixa nada a desejar em nível de consciência crítica e desejo de intercambiar saberes. Os ouvintes preferem o rádio de OC porque gostam de conhecer coisas novas, enriquecer as suas coleções, e, sobretudo, porque não agüentam mais a programação apelativa da mídia nacional. Geralmente, as suas histórias de vida se confundem com o hobby da radioescuta, representando também uma forma de compreender melhor o mundo em que se vive e a expansão do próprio conhecimento.

Bibliografia:

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CAPARELLI, Sérgio. Comunicação de Massa sem Massa. São Paulo: Editora Cortez, 1980:23.
COSTA, João Ribas da. Recursos Audiovisuais na Educação. Brasília: Editorial Pontes, 1962.
ENCICLOPÉDIA Mirador Internacional: Radiodifusão. São Paulo: Encyclopedia Britannica do Brasil, Vol. 17, 1990.
FLEUR, Melvin L. de. Teoria da Comunicação de Massa. Rio de Janeiro: Editora Zahar,1976.
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OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento: Um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 2002.
RADIO Deustche Welle. La Recepción de Ondas Cortas. Colônia - Alemanha, 2000.
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SCHEIMBERG, Marta. A tecnologia e a educação: Entre as histórias e as utopias. In: LITWIN, Edite (Org.).
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SERVIÇO Brasileiro da BBC. O Rádio no Brasil: História do Serviço Brasileiro da BBC. Londres – Inglaterra: British Broadcasting Corporation, 1998. 5º CD da série.

Referências:

1 Trabalho de conclusão do curso de licenciatura plena em Pedagogia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Campus de Jequié. Conclusão dos trabalhos em janeiro de 2004.
2 Professor, graduado em Pedagogia pela UESB/Jequié, pesquisador da radiodifusão internacional e redator/editor do informativo acadêmico Sintonia DX. E-mail: dxargolo@hotmail.com
3 Mestre em Educação pela PUC/SP e Professor de Metodologia da Pesquisa Científica do DCHL/UESB, Jequié.
4 Mestre em Ciências da Religião, doutoranda pela PUC/SP e Professora de Antropologia Cultural do DCHL/UESB, Jequié.
5 Mestre, Doutorando em Educação pela Universidade de Genebra - Suíça, Professor da disciplina Orientação do Trabalho Monográfico, DCHL/UESB, Jequié.
6 Entidade virtual, sem fins lucrativos, fundada em São Carlos, São Paulo, há 24 anos. Possui membros associados nas cinco regiões do Brasil, tendo se destacado pelo seu trabalho pioneiro e inovador como uma das mais conceituadas associações do gênero. Dessa forma, agregando ouvintes que dedicam boa parte do seu tempo livre pesquisando, escutando e escrevendo para as rádios de outros países, assim como promovendo palestras, encontros, editando boletins e produzindo matérias para a comunicação da web e radiofônica. Conseqüentemente, prestando uma importante contribuição histórico-científica no âmbito da radiodifusão internacional. Endereço do DXCB: http//www.ondascurtas.com
FONTE : SITE MINHARADIO.COM

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