sábado, 7 de dezembro de 2013

Jornalistas recordam de histórias marcantes nos plantões de Natal e Ano-Novo na redação

"Tudo acontece no final do ano, já parou para pensar?”, brinca a jornalista Sonia de Pieri, que teve sua estreia como locutora justamente em um plantão, no dia 31 de dezembro de 1992, na Alpha FM. Trânsito recorde, morte de celebridades, incêndios, entre outros, são apenas alguns perrengues que muitos jornalistas já enfrentaram durante seus plantões de fim de ano.

Soma-se às desvantagens da época o problema das redações reduzidas pela metade, e a dificuldade da apuração, já que muitos setores públicos estão em recesso. “Acho que no Natal é ainda pior. Por ser um feriado religioso, tudo para mesmo no país. Ano-Novo ainda tem muito comércio funcionando”, conta Francisco Prado, chefe de redação e âncora da rádio Bandeirantes.

Prado é pós-graduado em plantões complicados de fim de ano. O mais marcante ocorreu em pleno dia 25 de dezembro de 2007. Já às 6 horas da manhã, o então repórter chegava ao Hospital das Clínicas, em São Paulo, para apurar as causas de um grande incêndio naquele local, que é hoje o maior complexo hospitalar da América Latina. “Temos uma central informativa que funciona de forma integrada para as rádios e canais de tevê do grupo, e foi de lá que recebemos a informação, ainda no dia 24 de dezembro à noite. Foi a própria redação que acionou o corpo de bombeiros e a defesa civil”, recorda-se.

Entre a missão de trabalhar em uma época em que grande parte da população está festejando e a sensação de dever cumprido ao dar informações de qualidade, parece que os jornalistas não têm dúvidas do que preferem. Com o passar dos anos, brindar com copinhos de plástico na redação se torna parte da rotina e algo até divertido. “Para quem está começando no jornalismo, os plantões incomodam muito mais”, conta o repórter de esportes Wilson Baldini, de O Estado de S. Paulo. Com quase trinta anos de carreira, ele mesmo teve problemas com sua esposa pelas inúmeras vezes que se atrasou para a ceia, no início da profissão. “Somos de certa forma como médicos, temos uma profissão que exige dedicação, muitas vezes, em tempo integral”, define.

Com pouco mais de duas décadas de estrada, a repórter Christina Miranda, da rede Record Bahia, diz já ter aprendido a lidar bem com seus plantões. “A gente é jornalista 24 horas mesmo, não tem jeito. Não tem botão on e off.” Além de trabalhar todos os anos no Natal ou no Ano- Novo, o feriado de Carnaval também é de lei. “Você aprende a lidar. O aniversário do meu filho, por exemplo, cai no mesmo dia do aniversário de Dona Canô, mãe de Caetano Veloso – falecida em 25 de dezembro de 2012 – então, nunca tinha festa. E a família sabe que tem sempre um Natal ou Ano-Novo que eu não vou.”

Enquanto para alguns a tarefa é tirada de letra, há quem tenha desistido da rotina das redações em nome de mais tempo livre. Já prevendo como seriam os plantões depois que se casasse e fosse mãe, a jornalista Rosana Venceslau resolveu abrir seu próprio negócio: uma agência de comunicação. “Amei trabalhar com rádio. Posso dizer que é minha paixão profissional, mas ter mais liberdade, folgar nos fins de semana e feriados e passar mais tempo com a família não tem preço.” O mesmo caminho seguiu Sonia de Pieri, que acabou abrindo uma agência especializada em rádios corporativas. “Hoje continuo trabalhando com rádio, mas tenho horários mais flexíveis”, comemora.

Para conhecer algumas das histórias mais marcantes ocorridas nos plantões de final de ano, bem como saber quais são as principais vantagens e desvantagens de estar nas redações no período de Natal e réveillon, IMPRENSA ouviu profissionais da tevê, rádio e impresso.
Christina Miranda - repórter da rede Record Bahia

Crédito:Divulgação
"A gente é jornalista 24 horas mesmo, não tem jeito. Não tem botão on e off"
O “Domingo Espetacular” resolveu fazer uma rodada mostrando outro lado do Ano-Novo, de quem não tem nada para comemorar e que às vezes nem percebem que é o dia da “virada”. Foram cinco praças, com duas semanas de produção para cada uma. Foi difícil encontrar o personagem porque os moradores de rua migram de lugar, têm problemas com bebida, drogas. Então, a nossa produtora foi para a rua pesquisar e encontrar a Janete, uma mulher que tinha perdido a casa há 5 anos em um deslizamento de terra e que desde então tentava retomar a vida. Ela morava num buraco em um viaduto inacabado de Salvador e de vez em quando fazia uns bicos. Nesse final de ano o filho de 12 anos, que morava com o pai em Camaçari (região metropolitana de Salvador), foi passar a noite de réveillon com a mãe.

Quando cheguei ela estava de banho tomado, toda de branco e o filho muito comovido, porque estava com ela. Fui com o câmera e o motorista e ficamos das 22 às 2 horas. Foi muito emocionante, mas não chorei porque ela estava muito alegre. Foi especial justamente porque é possível ser feliz mesmo com muito pouco.

Francisco Prado - chefe de redação e âncora da rádio Bandeirantes

Crédito:Divulgação
"Plantão no Natal é ainda pior. Por ser um feriado religioso, tudo para mesmo no país"
Já havia ido para casa quando fui comunicado do incêndio, na madrugada do dia 24 de dezembro para o dia 25, em 2007. Era para eu entrar somente às 10 horas no plantão, mas devido à urgência do caso, já estava desde as 6 horas no Hospital das Clínicas. Chegando ao local, já havia pacientes do lado de fora e diversas pessoas saindo às pressas, porque o incêndio não havia sido controlado ainda.

Tenho 15 anos de carreira e essa foi uma das coberturas mais marcantes. Geralmente, os plantões de fim de ano são muito tranquilos. Já deixamos pronta uma programação musical, só que nessa ocasião do incêndio nós derrubamos o material frio para entrar com hardnews. No mesmo dia 25 já começamos um trabalho investigativo para apurar as causas do incêndio. A fumaça preta atrapalhou um pouco o trabalho da perícia e o fato de ter ocorrido no período de recesso, o trabalho de apuração foi muito dificultado, porque dependíamos de posicionamentos oficiais. Havia também a suspeita de que pelo fato de muitos equipamentos estarem defasados eles teriam causado o incêndio.

Sonia de Pieri - proprietária da agência De Pieri

Crédito:Divulgação
“Hoje continuo trabalhando com rádio, mas tenho horários mais flexíveis”
Já cheguei a dar feliz Natal no ar, nas rádios CBN e Eldorado. É muito gostoso. Mas, ao mesmo tempo, o rádio deixa a gente muito solitário, especialmente no fim de ano. Eu mesma operava as mesas. Como âncora a gente também faz um trabalho muito emocional. Tem muita gente sozinha que está precisando de um “alô”. Esse é o grande barato do rádio. Não tinha ideia da quantidade de gente que me ouvia mesmo em datas como Natal e Ano-Novo. Por isso sempre procurei fazer uma mensagem de incentivo, de esperança na hora dos votos. Mas há também diversos casos engraçados durante esses plantões. Teve uma vez, na rádio Alpha FM, que chamei a jornalista Mônica Porto, de “Mônica Porco”. Não conseguíamos parar de rir. É uma profissão muito gostosa.

Wilson Baldini - repórter de esportes e blogueiro de O Estado de S. Paulo
Crédito:Felipe Rau/ AE
"Somos de certa forma como médicos. Temos uma profissão que exige dedicação"
Trabalho no esporte há 26 anos. E todo ano trabalho ou no Natal ou no Ano-Novo. Nessa época, infelizmente, temos muitos acidentes, então sempre há bastante trabalho. Em 2005, estava em um plantão de Ano-Novo quando recebi na redação a notícia de que o ex-jogador argentino Alfredo Estéfano Di Stéfano estava internado na UTI, em um estado muito grave. Ficamos até 1 hora da manhã esperando mais informações e, felizmente, ele está vivo até hoje. Para quem está começando, os plantões incomodam muito mais. No início do relacionamento tive problemas com a minha esposa. Somos de certa forma como médicos. Temos uma profissão que exige dedicação. Já vi noivados e até casamentos terminarem por causa do plantão.

Rosana Venceslau - proprietária da Agência Comunica

Crédito:Divulgação
"Ter mais liberdade, folgar nos fins de semana e feriados e passar mais tempo com a família não tem preço"
Eu trabalhava como auxiliar de produção na rádio Eldorado na virada de 1997 para 1998, atendendo as ligações de ouvintes. Pouco depois da meia-noite, o meu ramal tocou. Estranhei pelo horário, mas era uma mulher que queria fazer uma reclamação. Ela contou que havia diversos buracos na rua dela e que a culpa era do então prefeito da cidade, Celso Pitta. Perdi as contas de quantas férias passei fazendo plantão. E com mais da metade da redação em recesso, o trabalho era dobrado. Eu dava boletins de trânsito no fim de ano, então a audiência ficava ligada até certo horário para saber a situação das estradas. Mas quando as pessoas chegavam ao seu destino, sentia que a interação dos ouvintes caía bastante, obviamente. Um dos fatores que pesaram na minha decisão de não trabalhar mais em redação e ter uma agência foi justamente esta: eu pensava “Como vai ser quando eu estiver casada e tiver filhos?”. Hoje, não imagino passar o Natal, por exemplo, longe do meu marido e do meu filho Gustavo, de 4 anos.  

Danúbia Paraizo

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