"Tudo acontece no final do ano, já parou para pensar?”, brinca a jornalista Sonia de Pieri, que teve sua estreia como locutora justamente em um plantão, no dia 31 de dezembro de 1992, na Alpha FM. Trânsito recorde, morte de celebridades, incêndios, entre outros, são apenas alguns perrengues que muitos jornalistas já enfrentaram durante seus plantões de fim de ano.
Soma-se às desvantagens da época o problema das redações reduzidas pela metade, e a dificuldade da apuração, já que muitos setores públicos estão em recesso. “Acho que no Natal é ainda pior. Por ser um feriado religioso, tudo para mesmo no país. Ano-Novo ainda tem muito comércio funcionando”, conta Francisco Prado, chefe de redação e âncora da rádio Bandeirantes.
Prado é pós-graduado em plantões complicados de fim de ano. O mais marcante ocorreu em pleno dia 25 de dezembro de 2007. Já às 6 horas da manhã, o então repórter chegava ao Hospital das Clínicas, em São Paulo, para apurar as causas de um grande incêndio naquele local, que é hoje o maior complexo hospitalar da América Latina. “Temos uma central informativa que funciona de forma integrada para as rádios e canais de tevê do grupo, e foi de lá que recebemos a informação, ainda no dia 24 de dezembro à noite. Foi a própria redação que acionou o corpo de bombeiros e a defesa civil”, recorda-se.
Entre a missão de trabalhar em uma época em que grande parte da população está festejando e a sensação de dever cumprido ao dar informações de qualidade, parece que os jornalistas não têm dúvidas do que preferem. Com o passar dos anos, brindar com copinhos de plástico na redação se torna parte da rotina e algo até divertido. “Para quem está começando no jornalismo, os plantões incomodam muito mais”, conta o repórter de esportes Wilson Baldini, de O Estado de S. Paulo. Com quase trinta anos de carreira, ele mesmo teve problemas com sua esposa pelas inúmeras vezes que se atrasou para a ceia, no início da profissão. “Somos de certa forma como médicos, temos uma profissão que exige dedicação, muitas vezes, em tempo integral”, define.
Com pouco mais de duas décadas de estrada, a repórter Christina Miranda, da rede Record Bahia, diz já ter aprendido a lidar bem com seus plantões. “A gente é jornalista 24 horas mesmo, não tem jeito. Não tem botão on e off.” Além de trabalhar todos os anos no Natal ou no Ano- Novo, o feriado de Carnaval também é de lei. “Você aprende a lidar. O aniversário do meu filho, por exemplo, cai no mesmo dia do aniversário de Dona Canô, mãe de Caetano Veloso – falecida em 25 de dezembro de 2012 – então, nunca tinha festa. E a família sabe que tem sempre um Natal ou Ano-Novo que eu não vou.”
Enquanto para alguns a tarefa é tirada de letra, há quem tenha desistido da rotina das redações em nome de mais tempo livre. Já prevendo como seriam os plantões depois que se casasse e fosse mãe, a jornalista Rosana Venceslau resolveu abrir seu próprio negócio: uma agência de comunicação. “Amei trabalhar com rádio. Posso dizer que é minha paixão profissional, mas ter mais liberdade, folgar nos fins de semana e feriados e passar mais tempo com a família não tem preço.” O mesmo caminho seguiu Sonia de Pieri, que acabou abrindo uma agência especializada em rádios corporativas. “Hoje continuo trabalhando com rádio, mas tenho horários mais flexíveis”, comemora.
Para conhecer algumas das histórias mais marcantes ocorridas nos plantões de final de ano, bem como saber quais são as principais vantagens e desvantagens de estar nas redações no período de Natal e réveillon, IMPRENSA ouviu profissionais da tevê, rádio e impresso.
Christina Miranda - repórter da rede Record Bahia
Crédito:Divulgação
"A gente é jornalista 24 horas mesmo, não tem jeito. Não tem botão on e off"
Quando cheguei ela estava de banho tomado, toda de branco e o filho muito comovido, porque estava com ela. Fui com o câmera e o motorista e ficamos das 22 às 2 horas. Foi muito emocionante, mas não chorei porque ela estava muito alegre. Foi especial justamente porque é possível ser feliz mesmo com muito pouco.
Francisco Prado - chefe de redação e âncora da rádio Bandeirantes
Crédito:Divulgação
"Plantão no Natal é ainda pior. Por ser um feriado religioso, tudo para mesmo no país"
Tenho 15 anos de carreira e essa foi uma das coberturas mais marcantes. Geralmente, os plantões de fim de ano são muito tranquilos. Já deixamos pronta uma programação musical, só que nessa ocasião do incêndio nós derrubamos o material frio para entrar com hardnews. No mesmo dia 25 já começamos um trabalho investigativo para apurar as causas do incêndio. A fumaça preta atrapalhou um pouco o trabalho da perícia e o fato de ter ocorrido no período de recesso, o trabalho de apuração foi muito dificultado, porque dependíamos de posicionamentos oficiais. Havia também a suspeita de que pelo fato de muitos equipamentos estarem defasados eles teriam causado o incêndio.
Sonia de Pieri - proprietária da agência De Pieri
Crédito:Divulgação
“Hoje continuo trabalhando com rádio, mas tenho horários mais flexíveis”
Wilson Baldini - repórter de esportes e blogueiro de O Estado de S. Paulo
Crédito:Felipe Rau/ AE
"Somos de certa forma como médicos. Temos uma profissão que exige dedicação"
Trabalho no esporte há 26 anos. E todo ano trabalho ou no Natal ou no Ano-Novo. Nessa época, infelizmente, temos muitos acidentes, então sempre há bastante trabalho. Em 2005, estava em um plantão de Ano-Novo quando recebi na redação a notícia de que o ex-jogador argentino Alfredo Estéfano Di Stéfano estava internado na UTI, em um estado muito grave. Ficamos até 1 hora da manhã esperando mais informações e, felizmente, ele está vivo até hoje. Para quem está começando, os plantões incomodam muito mais. No início do relacionamento tive problemas com a minha esposa. Somos de certa forma como médicos. Temos uma profissão que exige dedicação. Já vi noivados e até casamentos terminarem por causa do plantão.
Rosana Venceslau - proprietária da Agência Comunica
Crédito:Divulgação
"Ter mais liberdade, folgar nos fins de semana e feriados e passar mais tempo com a família não tem preço"
Danúbia Paraizo
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