No Dia Mundial do Rádio, celebrado neste 13 de Fevereiro, a discussão sobre o futuro do veículo envolve pessoas que participam do seu universo ligadas à pesquisa, à produção e à transmissão.
Em todo o planeta, apenas cinco em cada 100 pessoas ainda não têm acesso ao meio de comunicação, tido como o mais universal pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco.
E o rádio se faz presente em momentos de alegria, mas também de grandes crises. No terramoto do Haiti, há três anos, a relevância do rádio foi confirmada nos serviços de orientação da população. A utilidade do veículo, naqueles dias de devastação e morte foi lembrada pelo Secretário-Geral da ONU nesta conversa sobre o Dia Mundial do Rádio.
Terramoto
Ban Ki-moon contou aos profissionais da Rádio ONU, em Nova Iorque, que, quando nenhum outro veículo podia fazer transmissões, por causa dos estragos do terremoto, o então presidente haitiano recorreu à Rádio ONU para falar com o seu povo.
Para ilustrar como as pessoas ainda se concentram em torno de um aparelho de rádio, o jornalista Rafael Belincanta da Rádio Vaticano falou de um episódio comum na rotina da comunidade Dabaso do norte do Quénia. Foi o seu primeiro contacto como voz de rádio com uma comunidade de uma área longe de ter energia elétrica e sem opção de meios de comunicação.
Acesso às notícias
"Toda a comunidade, nessa determinada hora quando começaria a transmissão, se reunia nessa casa. Era, justamente, para poder ouvir as notícias do dia e ficar informado a respeito daquilo que acontece. Percebi que, apesar e toda a modernidade nos países desenvolvidos, em África o rádio continua a ser aquele meio de comunicação ainda mais importante para as populações, seja pelo facto de eles estarem informados, seja pelo facto de eles terem acesso às notícias, apesar de todas as precariedades", disse.
A Unesco diz que ainda vale investir para alcançar mais pessoas em situações adversas e desenvolve o Projeto para dar Maior Autonomia às Rádios. A trabalhar na iniciativa está o brasileiro Jonathas Mello, que revela a mais nova aposta.
"A Rádio Numa Caixa, Radio In a Box, é um aparelho que foi desenvolvido com outras organizações, como se fosse uma mala, que ele simula uma rádio comunitária. Pode ser usado, principalmente numa situação de desastres quando não tem mais eletricidade, internet ou as linhas de telefone foram danificadas."
Mensagem
A Unesco considera importante ilustrar o poder que o rádio tem de levar "qualquer mensagem para qualquer lugar, a qualquer momento". A agência destaca, ainda, a simplicidade e o baixo custo da tecnologia.
Mas os desafios do rádio também estão em centros de maior concentração, onde o meio também convive com a TV e a Internet. Perante vários recursos e inovações, qual o lugar do veículo na convivência com diferentes meios da era digital?
Pesquisas
Em entrevista à Rádio ONU, de Mariana, em Minas Gerais, a doutora em linguística aplicada e autora de várias pesquisas sobre o rádio, professora Nair Prata, destaca o desafio de inovar na forma como se consome o jornalismo no rádio.
"A gente tem que olhar para este momento com muita preocupação mas também com otimismo. Porque daí, pode surgir um novo modelo de programação. Mas a gente tem que pensar o tempo todo nesse jovem que consome a mídia de uma forma diferente. A forma que consumi jornalismo na minha juventude foi uma. Agora, os jovens, os nossos filhos consomem de outra forma. É fundamental conhecer a preferência do público. Como é que esse jovem fica sabendo das notícias. Por onde fica sabendo e como é que ele propaga. Nós temos que entender essas notícias para que se possa trabalhar nessa linha, tanto nas universidades quanto nas emissoras de rádio", defendeu.
Onda Curta
Mas as mudanças na programação e na linguagem das emissoras digitalizadas são apenas uma parte dos caminhos do rádio na era digital. Novos desafios são impostos à forma como se faz a transmissão.
A onda curta que, em vários países, está a passar para a reforma permitiu que milhares de ouvintes ouvissem emissoras à longa distância. Várias transmissões de rádios regionais ou nacionais foram sintonizadas, especialmente pelos radioamadores.
Jonathas Mello volta a destacar porque a onda curta pode ainda ser importante.
"A onda curta ainda pode ser integrada numa rádio do futuro quando não tem conexão, eletricidade ou internet – em caso de desastres como tsunamis. Ela continuará a ser principal fonte de informação e de coordenação."
Extinção
O risco de extinção da onda curta, para uns, é para outros oportunidade para comunicar em emergências, para educar à distância e dar o toque pessoal único nas notícias de atualidade e nos programas desportivos.
Os otimistas vêm as plataformas de mídia social a serem usadas para fortalecer a comunicação e o diálogo entre radialistas e o público. As plataformas de distribuição e as novas tecnologias também são tidas como ideais para melhorar o serviço.
Diante das questões de sobrevivência do rádio, o moçambicano Carlos Silva diz acreditar numa série de razões para o meio de comunicação encarar um mercado em evolução. Durante 62 anos, Silva viveu mudanças ocorridas no rádio como técnico, sonorizador e produtor.
Magia
"A rádio nunca há de acabar, nunca pode acabar porque tem uma capacidade humana que a televisão não tem. Ouvir aquela voz amiga, quer uma pessoa esteja sozinha no meio do mato, no meio de uma aldeia, ou no meio de Chókwe cheio de água, quer esteja doente no hospital ou de madrugada em casa, aquele locutor que fala com ele, com amizade, afetividade, isso é único, isso é rádio".
E da província angolana de Bié, a apresentadora mirim, Branca Pricinda, prefere olhar para um futuro em que, ao lado das mudanças da era digital, o rádio assume um papel particular com públicos mais novos.
"A rádio invade fronteiras e consegue atingir as pessoas em grande parte dos locais. É incrível que você encontra pessoas que passam todo o dia juntas da rádio elas se familiarizam com a rádio. Eis a nossa importância, continuar a dar entretenimento, informação, recreação às pessoas que em vários momentos trocam a Internet, a TV a revista com a rádio o que significa que estamos a conseguir fazer o nosso papel com excelência", sublinhou.
Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.
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