segunda-feira, 30 de novembro de 2009

MULHERES E RÁDIO

LOCUTORA SILVANA RIBEIRO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS -SP
MULHERES E RÁDIO

O texto abaixo foi escrito por Maria Elisa dos Santos Reis, na revista Única, em abril de 1926. Uma forma encontrada para explicar como funcionava a transmissão radiofônica, ainda uma novidade para a época. “Depois do jantar, sentados em bôas poltronas, diante da radiola, os maridos descobrem que se pode viajar muito, viajando ao redor da própria sala. Quem sabe se depois da radiomania a média da felicidade conjugal não aumentou?... Tem a palavra a madame...
Rádio mysterioso... Hoje a sciencia permite a côro de um de nós affirmar: o ar está cheio de idéias. De idéias e de sentimentos. Aqui neste salão aconchegante e florido, docemente perfumado, em que a leitora pousa o olharem Única, existem no ar canções e poesias. Há vozes alegres e tristes, cantando ou falando em vários idiomas, licções de mestres ou ‘loquela de palradores’ violinos a gemer e até mesmo tambores a rufar.
Pensa a leitora que está sozinha? Engano. O mundo, minha boa amiga, está falando, cantando ou gritando, aí mesmo no seu boudoir. E não são vozes de espírito, que só os iniciados conseguem ouvir, são vozes humanas, dos vivos, que estando a milhares de quilômetros do seu salão, entram na sua casa mysteriosamente, sem que a minha bôa amiga possa impedir essa invasão conseguida nas asas do “Rádio”! A qualquer hora do dia ou da noite é sempre possível em qualquer lugar armar um receptor – ‘um verdadeiro ouvido artificial’ – para escutar as amáveis intrusas, ‘as vozes da terra’...
Na estação transmissora da Rádio Telefônica, seja a da nossa querida e patriótica ‘Rádio Sociedade’, a corrente microphonica, modificada pelo som vae agir sobre as ondas que o transmissor espalhar no ar, e essas ondas variam na sua amplitude, de acordo com a corrente microphonica. Eis como o som ‘vira’ ondas hertzianas que se espalham pelo mundo. Imaginemos uma corda presa por uma das pontas a um muro, pela outra ponta segura na mão de alguém que se faça oscilar.
A corda (que comparação grosseira) é o ether. A distância entre os cristais das ondas é o que se chama de “comprimento da onda”. A mão que a agita é o transmissor.
Se alguém munido de um bastão enquanto oscilar de vez em quando dá-lhe uma pancada mais ou menos forte, as oscilações serão alteradas pelo bastão: o bastão é o microphone. Eis aí o mystério da transmissão meio desvendado.”

Ida de Alencar

Soprano, possuidora de uma voz aprimorada. Ocupou um dos postos mais destacados no cenário do cenário musical em nosso País. Tanto se fez admirar no palco do Teatro Municipal como na emissoras de rádio. Na década de 30 atuou em diversas rádios do eixo Rio de Janeiro e São Paulo, entre elas a Rádio Club de Santos.


Elizinha Coelho

O Rádio começou a ficar fortalecido e conhecido no final de 1926 e decorrer de 1927. Entre as cantoras que começaram a disputar a preferência dos ouvintes estava Elisinha Coelho. O seu filho, o jornalista Goulart de Andrade, fala da carreira de sua mãe. “O Rádio na época em que ela começou tinha características elitistas. Alguns artistas eram recrutados da sociedade.” Ela nasceu em Uruguaiana, Rio Grande do Sul. Filha do médico Marcelino Coelho e Acelina Piernard de Carvalho. A família toda morava no Sul e foi para o Rio de Janeiro em razão da carreira de Elisinha.
A cantora recebeu do compositor Heckel Tavares o título de “o pássaro cantor’. Casou-se pela primeira vez com Flávio Goulart de Andrade, filho do senador Eusébio Goulart de Andrade. Gravou aproximadamente 30 discos e entre seus maiores sucessos estão “Caco Velho” e “Rancho Fundo”, ambos de Ari Barroso.
E Goulart de Andrade continua explicando. “Até os anos 30 era chique trabalhar no Rádio e não havia preconceito contra os artistas; este veio, com a popularização do veículo. Minha mãe era comadre de Carmem Miranda, de quem sou afilhado. Elisinha casou-se pela segunda vez com José Inácio da Costa Couto, que era “croupier” de um cassino. Eles se conheceram numa “tournée” e aí ela abandonou a carreira. Hoje, minha mãe mora em Volta Redonda e vive de uma pensão de meu avô. Essa é a estória de uma cantora que foi rica, importante e talentosa.” .


Alzirinha Camargo

Oferecendo a São Paulo belos números musicais, Alzirinha Camargo chegou a esta cidade por volta de 1934. Ela estudava na Escola Normal de Itapetininga e era solista de Orpheon. Alguns familiares aconselhavam a menina a cantar no Rádio. Ingressou na Educadora, passou para a Record, Cruzeiro do Sul e depois foi inaugurar a Difusora de São Paulo, apresentou-se também em Santos. A primeira música que cantou foi “Moreninha Brasileira”, de Joubert de Carvalho.
Depois sentiu necessidade de ir para o Rio de Janeiro e, em 1935, estava atuando no microfone da Rádio Tupi, onde lançou a marcha “Querido Adão”, de Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago. Atuou também na Ipanema, Nacional e Mayrink Veiga.


Roxane

“São Paulo terra roxa, de Mário de Andrade, tem produzido muita coisa, além do café. E aí está Roxane.” Dessa forma a Revista O Malho definia a atuação da cantora. “Interpreta nos idiomas originais, os blues americanos e as canções francesas.”
Nasceu em Santos, eu nome real era Lucy da Silva Prado. cantou, entre outras, nas emissoras Educadora Paulista, Cruzeiro do Sul, Tupi de São Paulo. E, no Rio de Janeiro, na Mayrink Veiga e Nacional.


Heleninha Costa

Nasceu no Rio de Janeiro no final da década de 20 e bem pequena veio morar na cidade de Santos. A década de quarenta prometia muitos lançamentos e cantoras que iriam se destacar bastante. Uma delas era Heleninha Costa, que começou ainda menina, com 10 anos, na Rádio Clube de Santos e aos 12 na rádio Atlântica. Depois de encantar nessa cidade, foi para São Paulo e se apresentou na Record,Tupi,Difusora e Cosmos. No Rio de Janeiro atuou na Mayrink e Clube.Em 1940, foicontratada pela’ Nacional, cantandosambase canções.Formoutambém com Braulio de Carvalho eMoacyr Peixoto o Trio Irapirús. (208)

A Revista Careta, em 1952, na sessão Coluna Gente do Rádio, dedicou a Heleninha Costa os seguintes versos: “Tem um palminho de cara / E na testa uma franjinha / À Joanne D’arc, coisa rara / E uma voz engraçadinha / Apareceu com agrado / Que continua patente / Cantando o samba afamado / Do faquir e da serpente / E aspirando as alegrias / De um lar doce como mel / Casou-se em dezembro, há dias / com outro artista, o Ismael.


Zilah Fonseca

A cantora Zilah Fonseca, que tinha como nome real Yolanda Ribeiro da Silva Angarano, nasceu em São Paulo e iniciou sua carreira num grupo de teatro amador do Clube Guaiaúna.Masseu desejo nãoera o teatro e sim a música. Quando Ari Barroso,
Na Rádio Cosmos, instituiu um concurso para a Rainha do Carnaval, ela vislumbrou a possibilidade de uma carreira. Entrou no concurso e foi eleita a rainha do bairro do Jardim Paulista (onde morava).
Entusiasmado com Zilah, Ari a convidou para ingressar no Rádio, porém seus pais nãopermitiram.E somente dois anosdepois, em 1940, ingressou no Rádiocomo profissional, tendo o seu primeiro contrato na Difusora, atuando por um ano nessa estação. Em seguida o maestro Souza Lima a levou para a Tupi de São Paulo, onde ficou quase um ano. Depois, foi a passeio ao Rio de Janeiro, e Teófilo de Barros Filho convidou-a para cantar na Tupi dessa cidade. Já em 1942 foi para a Mayrink Veiga e aí se casou com o locutor Oswaldo Luiz Angarano. Era intérprete de sambas.


Aracy de Almeida

Na década de trinta, um nome já recebia o reconhecimento nacional: Aracy Telles de Almeida. Ela nasceu em 19 de julho de 1914, no subúrbio carioca de Encantado, e cantava em igrejas Batistas. Com 15 anos conheceu o compositor Custódio de Mesquita, que após ouvir sua interpretação a levou para a Rádio Educadora. Em depoimento à Revista do Rádio (janeiro de 1940, Aracy de Almeida explicava como foi o início de sua carreira. “Estreei na Educadora. Nunca tinha estado antes numa estação. Os meus pais não queriam que eu cantasse para o público. Os vizinhos não olhavam com bons olhos artistas do Rádio, porém, hoje (1949) eles são os meus mais intransigentes fans.”

Aracy de Almeida tornou-se uma estrela nacional. Em 1935, gravou pela primeira vez um samba de Noel Rosa intitulado “Sorriso de Criança”. E, depois disso, se tornou a maior intérprete do compositor.

Em 1936, a Revista Carioca já noticiava o grande sucesso de Aracy de Almeida. “O samba cantado pelo timbre de sua voz é diferente: malandro sem ser brejeiro; vivo porém sem rebuscamento de breques fora de compasso, é positivamente criado pelo temperamento original... Ela é o samba na sua expressão mais tropical. Um samba que sabe onde nasceu, não nega sua origem e tem orgulho de ser simplesmente samba.”

Uma outra definição interessante sobre Aracy foi dada por Hermínio Bellode Carvalho. “Dama Aracy de Almeida– Arquiduquesa do Encantado. Meu amor por Araca veio junto de outras coisas fundamentais: Chagall, Drummond e Picasso... Ela elevou o palavrão à categoria de uma cantada de Bach.”
fonte:www.fabiopiraja.com

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