segunda-feira, 16 de novembro de 2009

HISTÓRIA DO REPÓRTER ESSO


Uma paixão nacional

Adriano Luz

Em 1936, durante o governo ditatorial de Getúlio Vargas, nasce a Rádio Nacional, no Rio de Janeiro. Durante a repressão getulista, torna-se a voz do governo, que deve muito de seu sucesso ao trabalho de massa desenvolvido pela Rádio. Em 8 de março de 1940, ao adquirir o veículo, o governo Vargas tornou-a a rádio oficial do Brasil. A Rádio Nacional recebia uma verba do governo para manter o melhor elenco da época. Dentre eles músicos, cantores e radioatores.

Para entender o valor da Rádio Nacional dentro do Estado Novo é preciso ir mais fundo. Faz-se necessário estabelecer uma comparação entre o momento político e a função da Rádio na vida das pessoas. O aparecimento do rádio não tem relação com os tipos de governo à época, mas sim com o avanço das pesquisas tecnológicas que vinham sendo realizadas desde o século anterior. Rádio e populismo desenvolvem-se quase que simultaneamente.

O populismo brasileiro começa a consolidar-se verdadeiramente com Getúlio Vargas, a partir do Estado Novo, em 1937. Ao surgir uma nova classe, impulsionada pela política populista, surgem também novos veículos que vão se prestar a estabelecer a comunicação do governo com o povo por meio de um discurso que visava atingir as massas, conquistá-las e fazê-las crer que existia um governo preocupado com seus anseios e necessidades. E é justamente aí que entra principalmente o rádio e, em menor escala, o cinema.

À época, a política econômica do Brasil era a agronomia. Houve, então, a necessidade de mudança para uma economia industrial movida por uma política populista. A crise gerada pelo crack da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, exigiu que todos os países, inclusive os latino-americanos, dessem início a um processo de modernização significativa.

Nesse instante, o rádio se torna o veículo mais importante, e o populismo surge como uma tentativa para solucionar os problemas deixados pela política agro-exportadora da política café-com-leite. Destacou-se nesse segmento a Rádio Nacional.

Uma das idéias que mais surtiu efeito para agradar aos inúmeros ouvintes foi a criação das radionovelas. A primeira, Em Busca da Felicidade, foi ao ar em 1942, pelas ondas da Rádio Nacional. E logo, assim como os programas com espectadores em estúdio, transformou-se em sucesso. Três anos depois, a Rádio Nacional transmitia diariamente 14 novelas.

Radiojornalismo

Mas não foi só de alienação que a Rádio Nacional sobreviveu. O radiojornalismo foi mais uma especialidade que surgiu. A Rádio Jornal do Brasil foi uma das primeiras a se voltar mais seriamente para este segmento. Mas logo foi imitada, com brilho, pela Nacional. Já em 1941, durante a II Guerra Mundial, a emissora criava o Repórter Esso, com a voz de Romeu Fernandez anunciando o ataque de aviões da Alemanha à Normandia.

O programa Repórter Esso fez grande diferença na história brasileira e no radiojornalismo. A partir de seu surgimento várias rádios procuraram, além de retransmiti-lo, também imitá-lo. O padrão austero e preciso do Repórter Esso ficou no ar até 1968. Foram 27 anos de um radiojornalismo que procurava mostrar, diariamente, os principais fatos do Brasil e do mundo. Era, assim como dizia seu slogan, a "testemunha ocular da história".

Foi um dos poucos programas da época em que o locutor teve uma preparação especial. Heron Domingues, que durante 18 anos comandou o Repórter Esso, foi preparado pela United Press Internacional (UPI) estando, portanto, no mesmo nível dos melhores locutores norte-americanos da época.

A Rádio Nacional deu um grande passo para o desenvolvimento da história brasileira. O pioneirismo diante de uma conturbada situação política fez com que aflorasse logo de início a qualidade dos que trabalhavam no veículo e assim nivelasse por cima a capacidade dos profissionais de comunicação.

Ferramenta do governo

Adriana Magossi

A inauguração da Rádio Nacional ocorreu em 12 de setembro de 1936, anunciada por um de seus principais narradores - Celso Guimarães. Era vista como a voz oficial do governo getulista, que utilizou a Hora do Brasil em 1939 para transmitir e disseminar as idéias e os ideais do regime ditatorial do Estado Novo.

Getúlio Vargas mobilizava a massa se prevalecendo do elo que o Estado tinha com a rádio. Era o veículo de maior alcance, atingindo principalmente a classe operária.

Por meio da rádio oficial do Brasil, Getúlio Vargas, num momento de repressão, propagou uma onda de nacionalismo e populismo entre a classe urbana. Para isso, utilizou a rádio em seu próprio benefício, já que se instalava uma nova política econômica com base nas atividades industriais. Tudo isso devido aos problemas deixados pela política agro-exportadora dos governos café-com-leite. O rádio acumulou uma nova função, não mais a de entretenimento, mas de instrumento de ação político-social, porém, de cunho propagandístico e de difusão da cultura local.

Getúlio com seu governo controlador e repressivo, não poderia deixar de manipular também os meios de comunicação. O rádio tinha como público-alvo a classe trabalhadora urbana e esta era vista como pedra bruta a ser lapidada pelos ideais daqueles que detinham o poder. Isto o levou a acreditar que a Hora do Brasil seria um dos programas mais ouvidos pelos brasileiros.

Meio de manipulação

A princípio, a programação da Hora do Brasil, transmitida entre 19h e 20h, era informativa, cultural e como não poderia deixar de ser, cívica também. Alexandre Marcondes Filho, então ministro do trabalho, se encarregava dentro de seu espaço na programação de divulgar as ações do governo e exaltá-las em nome de Getúlio. Era de vital importância que o povo tivesse conhecimento, mesmo que superficialmente, a respeito dos atos do governo. Dessa forma, Getúlio Vargas, visava o controle da massa brasileira de modo censurado e repressivo, e o fez por meio do rádio.

Celso Guimarães, Heron Domingues, Haroldo Barbosa, entre outros, disseminaram e exaltaram a cultura popular brasileira. Contribuíram, também, para que o rádio fosse fonte primordial de notícias, informações rápidas e radiojornalismo de qualidade.

Em 1940, Gilberto de Andrade atingiu a liderança entre as rádios com o radiojornal Repórter Esso. Fato que obrigou as outras rádios a modificarem seu modo de transmissão, suas programações e até mesmo a copiarem o modelo de radiojornalismo do Repórter Esso. Nesta época, o rádio deixou de ser apenas um veículo transmissor de notícias de jornais impressos para ter uma maior atuação, agora, com linguagem própria.

A Rádio Nacional foi sem dúvida uma das grandes precursoras da comunicação em massa. Foi um veículo de alto alcance contribuindo para a modernização de outras mídias. Estabeleceu um elo mais próximo entre a notícia, entretenimento e lazer com o ouvinte. A emissora tornou-se, à época, o meio de comunicação mais eficaz para controlar a massa. Dessa forma, a imprensa em geral também sentiu a necessidade de expansão, com um único objetivo: o povo. FONTE www.canaldaimpresa.com.br

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