quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A Revolução das FMs




A Revolução das FMs
Com música e humor, abre-se uma nova era do Rádio

(Revista Veja, Editora Abril, 27 de junho de 1984)
"Atenção, turminha do balanço, atenção, rapaziada do pedaço, gente alegre e feliz, muita atenção. "Um beijo para você, feia". e ouça essa. Primeiros acordes. Música no ar. E dá-lhe Blitz, dá-lhe Djavan, Michael Jackson, conjunto Queen... Curtiu essa gatinha? Gostou, garotão? Então, tem mais. E tome Lionel Ritchie, dá-lhe Lulu Santos, Kid Abelha e seus Abóboras Selvagens...."Este som sai daqui de cima e vai cair na sua cabeça". Dá-lhe Barão Vermelho, dá-lhe João penca e seus Miquinhos Amestrados. "Agora, diga-me, conte-me tudo, não me esconda nada".
Está no ar a mais nova revolução nos meios de comunicação brasileiros - a das rádios FM, ou freqüência modulada. Com frases como estas, disparadas em alta velocidade e voz macias por seus incontroláveis locutores, e as músicas mais explosivas das paradas de sucesso, as FMs invadiram de vez a vida dos brasileiros, estão moldando seus gostos, criaram milhões de ouvintes e, com uma participação crescente no mercado publicitário, fazem girar alguns bilhões de cruzeiros. "Este som sai daqui de cima e vai cair na sua cabeça", entoa Otávio Ceschi Júnior, um dos mais celebrados locutores da Rádio Cidade de São Paulo, na linguagem própria e universal das FMs. "Conte-me tudo, não me esconda nada", ecoa Fernando Mansur, da Rádio Cidade do Rio de Janeiro. E vai-se em frente , Jovem , solta, alegre, a faixa FM do rádio - aquela em que o locutor César Filho, da Bandeirantes FM de São Paulo, manda seu beijo para as feias - assumiu definitivamente o papel de injetar animação entre os brasileiros e cuidar para que seja sempre alto o seu astral.
As FMs são hoje responsáveis por uma ebulição que o mundo da comunicação eletrônica não conhecia desde o surgimento da televisão no Brasil, no início da década de 50. Das menos de dez emissoras existentes há quinze anos, passou-se hoje para nada menos de 469, espalhadas pelos 4 cantos do país, das quais pelo menos 100 nos últimos cinco anos. Até a remota ilha de Fernando de Noronha, na costa norte do país, tem uma emissora de FM. Novas rádios surgem à razão de vinte concessões por mês, num ritmo em crescente aceleração - e sê prevê que logo seja completada a cota máxima de 1050 canais autorizados pelos acordos internacionais de radiodifusão. Trata-se de um mundo que, por qualquer ângulo que se olhe, revela seu viço. "As FMs, hoje, já estão empatadas em audiência com suas irmãs AMs, as rádio tradicionais, e em algum tempo devem condenar as segundas ao desaparecimento", diz o presidente da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão, Joaquim Mendonça, também diretor das rádios Eldorado AM e FM, de São Paulo.
No Maracanãzinho - No mercado publicitário, as FMs ainda são minúsculos combatentes quando se considera sua participação no total das verbas: elas ficam apenas com 1% do total de 3 trilhões de cruzeiros previstos para este ano, quantia que em sua metade será abocanhada pelas televisões. Sua participação nesse bolo, porém, cresce continuamente. E, mais revelador ainda, elas exibem uma saúde que outros veículos não possuem. No ano passado, o faturamento real das FMs cresceu em 4%. Foi o único setor, no ramo das comunicações, que conseguiu bater a inflação de 211% em 1983. As verbas destinadas às televisões, nesse mesmo ano, caíram em 31%, e o faturamento das rádios AM diminuiu 35%.
Prova de vitalidade do império em expansão que constituem as FMs são as promoções que ultimamente vêm sendo patrocinadas pelas emissoras mais festejadas. Ainda no mês passado, a Rádio Cidade do Rio de Janeiro - a líder de audiência entre as cariocas - reuniu mais de 20 mil pessoas no Maracanãzinho, na comemoração de seu sétimo aniversário. outra prova é a ascensão de seus locutores mais bem-sucedidos à condição de ídolos populares, um pouco à maneira dos animadores de rádio de antigamente, embora seja apenas sua voz, e não os seus rostos, que a maioria dos ouvintes conhece. Tanto quanto para ver o conjunto Blitz, Lulu Santos ou Erasmo Carlos - algumas das atrações presentes -, o público que lotou o Maracanãzinho, na festa da Rádio Cidade, na festa da Rádio Cidade, estava ali para observar, em carne e osso, seus locutores de sua predileção, gente como Eládio Sandoval (aquele que diz sempre: "Sem maldade"...), Jaguar (aquele que se despede prometendo: "Amanhã, volto no gogó da Cidade"), ou Fernando Mansur.
Sandoval, de 38 anos, Jaguar (ou Jaguarussu da Silva), de 37, e Mansur, de 32, com salários de quase 2 milhões de cruzeiros mensais - altos, para o setor - formam o trio de ouro da Cidade. Enquanto isso, em São Paulo, ocorrem fenômenos como a vertiginosa ascensão de Serginho Leite, de 27 anos, o mais popular dos apresentadores da Jovem Pan 2 FM, uma das mais poderosas do "pedaço", como diriam os locutores desta nova geração, capazes de criar um tipo de empatia único com seus ouvintes. Não só um locutor, mas também músico e humorista, Serginho Leite especializou-se na composição de canções satíricas (ele é autor de Creuzinha Montoro, com que respondia ao sucesso de Neuzinha Brizola) e na imitação de artistas e política. E não só costuma se apresentar em shows em que, sozinho, lota o teatro do Palácio das convenções do Anhembi como, recentemente, lançou um LP.
Avião sem asas - Em contraposição ao predomínio das vozes masculinas na maioria das FMs, já há alternativas como o time de mulheres montado pela Rádio Fluminense, do Rio, também chamada de "A maldita", ou " O Rato que Ruge". Só vozes femininas - num total de sete locutoras - que se revezam no microfone da Fluminense, que tem outra especialidade: só toca rock. Surpreendente é que a emissora tenha conquistado um público cativo, e desponte num quinto lugar no Ibope carioca, sem o apoio de uma grande estrutura. Ao contrário por exemplo da Rádio Cidade, pertencente a um grupo poderoso - o grupo Jornal do Brasil - a Fluminense surgiu como a aventura isolada de seu diretor Luís Antonio Mello, de 29 anos. " A Fluminense é um avião voando sem asas e sem motor, mas com um monte de passageiros dentro", diz Mello.
O mundo das FMs á assim mesmo: ágil, inquieto, surpreendente. Como explicar seu sucesso? Na raiz de tudo, para começar, há o aspecto técnico: o som da FM é muito melhor do que as velhas AMs, com as quais o brasileiro se acostumou desde o final da década de 20 ao operar em ondas sonoras mais largas, as FMs contornam com muito mais facilidade perturbações elétricas como relâmpagos, interruptores e motores. À pureza do som soma-se a vantagem dos custos: colocar no ar uma emissora FM é muito mais barato do que colocar no ar uma AM. Hoje, com 160 0u 170 milhões de cruzeiros - o preço de um apartamento de 4 quartos, nas maiores cidades brasileiras -, pode-se montar uma emissora FM. "Rádio FM é um ótimo negócio", assegura Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o "Tutinha", diretor da Jovem Pan FM, a emissora líder de audiência em São Paulo. " O custo de manutenção é pequeno e o retorno é alto".
Sem ambições - Na verdade, sempre se soube que as FMs eram melhores em som e mais vantajosas em custo. Isso já estava claro desde o surgimento da emissora pioneira no Brasil, a Rádio Imprensa, fundada em 1956, no Rio de Janeiro e em São Paulo, pela empresária carioca Ana Khoury. O problema é que, se apresentam a vantagem e limpidez do som, as FMs também apresentam uma desvantagem: o alcance reduzido. Ao propagar ondas sonoras sempre em direção horizontal, tal como a televisão, e não refleti-las na ionosfera, como as emissoras AM, as FMs são incapazes de contornar obstáculos geográficos como vales e montanhas.
Assim, seu alcance fica reduzido a, na melhor das hipóteses, um raio de 100 quilômetros - e, numa época em que os empresários de rádio pensavam sobretudo na expansão de seu alcance para o maior público possível, isso tornava o negócio pouco atraente. Acresce que, até menos de 10 anos atrás, pouquíssimos eram os aparelhos de rádio produzidos no brasil capazes de captar a faixa de FM. Com isso, ficava-se sem saber muito o que fazer com a freqüência modulada. Ou, então, ela era usada sem muitas ambições, como ocorria com a própria e pioneira Rádio Imprensa - seu esquema, até hoje, é fornecer o fundo musical para bancos ou escritórios, em troca de um pagamento mensal. A revolução das FMs começou com a popularização dos aparelhos de rádio capazes de captar sua freqüência. Primeiro com aparelhos de som que incluíam um receptor FM, e depois com os rádios de automóvel, começou a invasão. Hoje, segundo José Nivaldo Amstladen, assessor de marketing da Bosch - maior fabricante de rádios de automóveis no Brasil -, quase 80% da frota brasileira está equipada com receptores de FM. A própria Bosch, na esteira do desinteresse do mercado, parou de fabricar, em 1977, auto-rádios que captassem apenas emissoras de AM. Em termos de produção de receptores domésticos, a expansão da FM foi igualmente avassaladora: oito em cada dez rádios produzidos no Brasil já vêm hoje com o sintonizador de freqüência modulada.
Simultaneamente, enquanto as televisões, mais e mais, se tornavam um veículo nacional, os empresários de rádio passaram a perceber que o mercado regional não era um negócio tão fraco assim. Se a televisão, crescentemente, ampliava seu alcance, e representava custos cada vez mais alto para os anunciantes, por que não oferecer-lhes a alternativa de um veículo mais barato e de público mais localizado? O raciocínio mostrou-se correto na prática, mas para a definitiva explosão das FMs, ainda faltava um passo. E esse passo tem data e local precisos: foi dado em 1977, no Rio, com a inauguração da rádio Cidade. De repente, aparecia uma emissora que não se limitava a enfileirar três, quatro, cinco músicas seguidas e anunciá-las com uma voz impessoal. Pela primeira vez no Brasil, seguindo o estilo popularizado nas congêneres dos EUA, apareciam nas FMs locutores soltos, sempre com o humor em plena forma, hábeis em combinar vozes de veludo com uma permanente eletricidade na locução. Eles estabeleciam um contato direto e estimulante com o público - e, ainda por cima, apresentavam apenas os grandes sucessos, e não a música repousante que fazia o grosso da programação até então.
Na realidade, o que aconteceu - e isso tem fundamental importância, neste processo todo - foi a FM que descobriu o jovem. Foi a partir desse público, embalado em sua música saltitante e no estilo à vontade de seus locutores, que as rádios de freqüência modulada cresceram, e é nele que se apoiam até hoje. "A FM veio preencher uma lacuna na comunicação com o jovem ", diz Cláudio Pereira, diretor de mídia da Salles Interamericana, uma das maiores agências de publicidade do país. Subproduto da sisuda Rádio Jornal do Brasil, onde jamais se permitiria um jeito tão informal no ar, a Cidade marcou uma presença que até hoje é a mais forte no Rio de Janeiro. "Sem dúvida, a melhor transmissão de FM do Rio é a Cidade", orgulha-se seu diretor Nelson Batista Neto.
Ocorre, no entanto, que a Cidade não está mais sozinha. No rastro de sua descoberta da potencialidade do público jovem, lançaram-se virtualmente todas as emissoras de sucesso do país. Em São Paulo, até 1980, a Rádio Jovem Pan 2 FM transmitia no velho esquema: uma programação previamente gravada, com um mínimo de interferência do locutor. Então surgiu a Manchete, com um estilo parecido ao da Cidade do Rio, e a emissora teve de mudar. "Com a entrada da Manchete, com um locutor ao vivo, delineava-se a briga do cinema mudo com o cinema falado", compara Tutinha, diretor da Jovem Pan. "Claro que tivemos de mudar para o cinema falado". No "cinema mudo" - ou seja, no velho esquema das gravações -, permanecem apenas uns poucos remanescentes de peso, como a Rede Transamérica, que opera sem locutor no estúdio e tem até um a hora certa dada por um sinal de computador. Não há dúvida de que o público de FM é constituído, sobretudo, por jovens. Segundo dados da Leda - empresa de pesquisas que faz levantamento de apoio aos anunciantes -, 71% das pessoas entre 15 e 29 anos, em São Paulo, têm o hábito de ouvir FM. Já na faixa dos 40 aos 65 anos, apenas 22% das pessoas ouvem a freqüência modulada. São números que se repetem de maneira parecida por todas as cidades brasileiras - e é por isso que, que não só no Rio e em São Paulo, mas em toda a parte, se repete o fenômeno das emissoras FM voltadas principalmente para o público jovem. Em Londrina, no Paraná - pois as FMs, hoje, marcam o tom não apenas dentro como fora das capitais do Estado -, a emissora líder de audiência, a Rádio Folha de Londrina, apoia-se exatamente no mesmo esquema de música movimentada, de preferência americana, e brincadeiras de locutores. Também como a grande maioria das capitais ,a Folha de Londrina realiza suas promoções - e ainda recentemente patrocinou um concurso para eleger a Garota Folha FM. Mais de 150 candidatas desfilaram no Country Club local, e a vencedora, Sandra Vanzo, de 16 anos, definiu, de maneira assumida e extremamente apropriada: "Eu sou da geração FM".
EMISSORAS PIRATAS - A atmosfera da juventude que marca a explosão das FMs está presente, inclusive nas pessoas que as dirigem. Nelson Baptista Neto, da Cidade do Rio, tem apenas 32 anos. Já o Tutinha, da Jovem Pan de São Paulo, tem menos idade ainda - 28. E há o caso de um diretor de rádio de apenas 24 anos, Marcelo Campos de Almeida, responsável pela Rádio Estácio do Rio - emissora pertencente à universidade Estácio de Sá. "O mercado de FMs é promissor", diz Marcelo - e, dada a volúpia com que os jovens se lançam a ele, não há nenhuma dúvida de que é mesmo. O fato é que a "geração FM" às vezes não se contenta em ouvir : também quer fazer rádio. E, como nem todos têm a sorte de fazê-lo de forma legal e regular, como Marcelo, não são os poucos os que apelam para um fenômeno quase tão efervescente quanto a própria expansão das FMs: a formação das rádios piratas. No município de Sorocaba, em São Paulo, por exemplo, mais de 40 emissoras surgiram e desapareceram, nos últimos sete anos. favorecidos pela topografia irregular da cidade, que dificulta a localização de suas emissoras, os jovens de Sorocaba têm na pirataria radiofônica um hobby quase tão freqüente quanto o de ouvir rock.
Ainda agora, está operando na cidade a Rádio Black Panther, que faz suas aparições às terças e quartas-feiras, na hora da Voz do Brasil - exatamente os dias de folga do garoto de 15 anos que a opera. " É muito simples montar um transmissor de FM", diz o jovem, que comprou o seu equipamento na Alemanha e se recusa a divulgar o seu nome de medo da vigilância do Dentel - o órgão do Ministério das Comunicações encarregado de supervisionar as transmissões de rádio e Tv. Na Black Panther se faz exatamente o que se faz nas outras FMs - toca-se música jovem e brinca-se com os ouvintes. Até agora, a emissora manteve-se a salvo das oito estações fixas e dezessete móveis - montadas em caminhões e kombis - mantidas pelo Dentel para rastrear as emissoras no Brasil.
O mundo das FMs é variado e difundido pelo país afora. Nele convivem cadeias poderosas, como a da Rádio Cidade, hoje formada por outras cinco emissoras, além da matriz carioca, e um empreendimento como a Rádio Educadora, do município paranaense de Alto do Piquiri, onde os dois únicos locutores ganham salário mínimo. Ao lado do poderosíssimo sistema Globo, proprietário de seis emissoras ao redor do país - inclusive duas no Rio de Janeiro, a Globo FM e a Rádio 98 - pode florescer um empreendimento ousado e inventivo como a Rádio Fluminense. Essa variedade, facilitada tanto pelos custos baixos como pelo alcance regional a que necessariamente estão presas as emissoras, possibilitou um dos fenômenos mais benéficos da explosão das FMs: o florescimento de um meio de comunicação que surge na comunidade, e volta-se especificamente para ela. Ao mesmo tempo em que a complexidade e os altos investimentos exigidos pela televisão fazem-na pensar sempre em termos nacionais, com as FMs reverte-se o processo, e volta-se a pensar na escala do município.
Empresas fortes tem surgido no interior do país, e um exemplo disso é o que acontece em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. Surgida há quatro anos, a Rádio Melodia, de Petrópolis, hoje tem trinta funcionários, opera 24 por dia e exibe um faturamento que, situado hoje nos 20 milhões de cruzeiros mensais, aumenta constantemente. O empreendimento abriu os olhos para um mercado fecundo e logo a Melodia terá uma concorrente - a Rádio Diário Petrópolis, programada para entrar no ar antes do fim do ano. A base da programação da Melodia é a música. Já a Diário de Petrópolis pretende atacá-la pelo flanco,e valorizar o jornalismo. "Quero fazer uma rádio viva, ligada à comunidade", diz Paulo Antônio Carneiro Dias, proprietário da nova emissora. Com isso, ativa-se a concorrência e a comunidade só tem a ganhar.
Se a regionalização e a valorização do interior são lados mais positivos da explosão das FMs, há um aspecto que tolda o seu caminho: a política de concessões que vem sendo seguida pelo governo. Nem sempre ficam com as rádios, quando são abertas as concorrências, os grupos mais qualificados. Ao contrário, a concessão de FMs virou moeda política, de larga circulaçãoentre os protegidos do governo e os políticos do PDS. Com isso, ameaçam-se o profissionalismo e o rigor técnico que o negócio, como qualquer outro, deveria possuir.
Teoricamente, a concessão de um canal de emissora FM obedece normas de uma concorrência aberta, e a primeira coisa que o interessado tem de fazer é consultar a portaria em que o Ministério das Comunicações, em 1983, relacionou os municípios onde existe disponibilidade. As complicações começam com a 'exigência de uma numerosa papelada - e é por isso que surgiram no país escritórios como o Plantel, de Brasília, ou o Teletec, de São Paulo, especializados em representar o interessado junto ao Dentel. Nem mesmo so serviços de escritórios, porém, hoje são suficientes. "A única coisa que podemos fazer é orientar o candidato a procurar um político de peso e de bom trânsito junto aogoverno para ajudá-lo", revela o advogado Hélio Siqueira, do Teletec. Ou seja: o que precisa mesmo é pistolão. Pessoas ligadas à oposição raramente se verão contempladas. "Hoje em dia, quando o Dentel abre um edital para uma emissora, a pedra já está cantada", diz Décio Chaves, advogado do Sertel, outro escritório especializado em concessões.
Outro fator de sombra sobre as FMs, insistentemente lembrado por seus críticos, é a programação repetitiva que, a partir da descoberta do Mercado Jovem, passou a dominar quase todas as emissoras. "O que se observa é um fenômeno de repetição de estilo", diz Washington Olivetto, diretor de criação da agência DPZ. Ou seja: segundo essa visão, a descoberta dos jovens que fez a força das FMs, sria também a sua fraqueza, na medida em que todas correram para o mesmo público e não oferecem alternativas para o ouvinte. De fato, a mesmice das programações se reproduz portoda a parte. "A continuar a pasteurização das FMs", adverte outro publicitário, Antonio Luis de Freitas, da agência paranaense Exclan, "a saída para as agências será programar apenas as rádios quye estão em primeiro lugar".
Pesquisa de Campo - Qual a solução? O fato é que, se existe uma programação que está dando certo, todos correm para ela - e isso é quase inevitável. Em quase todas as emissoras brasileiras, repete-se o mesmo esquema de selação de músicas, e todas elas têm, por exemplo, na revista BillBoard, o mais autorizado compêndio das paradas de sucesso americanas, a sua bíblia. O mundo das FMs criou satélites como a empresa Fidelidade Enterprises, dirigida em Miami por um brasileiro, Hélio Rocha, que junta em fitas os sucessos recém-saídos do mercado americano e já vende seus pacotes para cerca de cinquenta emissoras brasileiras. No afã de estar sempre sintonizado com o gosto dos ouvintes, há emissoras que saem a campo procurando auscutar o público sobre as suas preferências musicais. É o que faz a Rádio Caetés, do Recife, que mantém uma equipe de pesquisadoras - As garotas da Caetés -, encarregadas de, com pranchetas na mão, percorrer os bairros da cidade.
A mesmice da programação que resulta dessa corrida tem porém uma solução que muitos vislumbram a médio prazo: a gradativa diversificação das emissoras, que tenderiam a se aproximar do modelo seguido hoje pelas mas. "Por que não colocar o programa do Zé Bétio na FM"?, pergunta Reynlado Wilke, gerente de mídia da agência MPM, referindo-se a um dos programas caipiras mais populares de São Paulo. Wilke mesmo responde que as FMs não fazem isso porque nasceram em "berço elitizado", ou seja, em meio a alguns poucos e caros aparelhos receptores. Hoje, porém, qualquer radinho de pilha já as sintoniza, e por isso não é difícil prever que surjam emissoras mais populares, ou então dedicadas a um tipo de programação específico - o jornalismo, por exemplo.
O presidente da ABERT, Joaquim Mendonça, prevê que breve emissoras se dedicarão a irradiar jogos de futebol. E então, com seus custos mais baixos e seu som mais puro, as FMs empurrarão as mas para a definitiva aposentadoria, tal como já ocorreu com as antigas emissoras de ondas curtas. Nesse dia em que as FMs estiverem mais diversificadas em suas programações, novos públicos serão acrescidos à sua esfera. Enquanto isso, os jovens poderão continuar com suas faixas em que ouvem Blitz, Michael Jackson e Lulu Santos, e um locutor os adverte: "Este som sai daqui de cima e vai cair na sua cabeça".

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