segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

E o CD morreu sem ficar gagá como o rádio

E o CD morreu sem ficar gagá como o rádio


É isso mesmo, meninos e meninas. Estamos vivendo o fim de uma era, presenciando a evolução quase exponencial da tecnologia. Nós hoje somos testemunhas de mudanças em um ritmo que nos velhos tempos levava gerações.

Pense em quanto tempo ficamos restritos à escrita manuscrita, desde as tabuinhas de argila sumérias até a impressão por tipos móveis se tornar comercialmente viável em 1440, nas mãos de Gutenberg.

Dependemos de tração animal por quase toda a História da Humanidade, a grande mudança, o automóvel começou a se popularizar no final do Século XIX, mas até meados do XX ainda era grande a utilização de cavalos. O exército alemão na Segunda Guerra Mundial era uma força basicamente movida a cavalo. Durante a guerra os nazistas tinham em média 1 milhão e 100 mil cavalos em uso. Das 322 Divisões do exército e da SS em Novembro de 1943, somente 52 eram blindadas e motorizadas.

O LP, o querido bolachão foi lançado em 1931. Seu sucessor comercial, o Compact Disc apareceu em 1982. Foram 50 anos até algo novo tomar o lugar do disco de vinil.

Note, não estou falando de tecnologias alternativas por si só. Falo de quebras de paradigma, sucesso comercial, mudança na própria forma de pensar do público. Alternativas sempre existirão. O excelente MiniDisc da Sony era bem melhor do que CDs, mas nunca saiu do gueto, por falta de visão dos envolvidos.

Agora o CD, que a maior parte dos leitores deste artigo estava viva quando foi lançado, está pela hora da morte. Em 2009 na Inglaterra as vendas de CDs musicais caíram 6.9%. Em 2010 a queda chegou a 12,4%. Eu nem lembro o último álbum que comprei. Aliás, lembro sim, foi a versão especial de Let It Be, dos Beatles. Que só conseguia ouvir no PC após instalar um programa maligno da gravadora, não podia abrir do iTunes ou do Windows Media Player muito menos ripar as músicas para ouvir no iPod.

O consumo de música está migrando para o formato download muito, muito rápido. Em 2008 o maior vendedor de música (digital ou não) nos EUA deixou de ser o WalMart e se tornou a Apple. Ano passado mais de 25% de toda a música vendida nos EUA foi vendida via iTunes Store.

Hoje todos os geeks “safos” já compartilham sua biblioteca por toda a casa, acessando a mídia de onde quiserem. Logo a geração que fazia questão de possuir fisicamente os álbuns dará lugar aos que preferem a praticidade de acessar suas músicas de qualquer lugar do mundo. Nos games isso já acontece. As vendas via Steam estão a todo vapor (desculpe, foi inevitável) e o desejo de possuir uma caixa para ocupar espaço, com um DVD para você perder e tendo que atualizar o jogo sempre que reinstalar já foi embora do coração da maioria dos gamers.

Algumas gravadoras tentaram migrar para pendrives, mas não deu muito certo. Foi uma manobra desesperada para manter o Business dentro de uma realidade que eles entendam. É compreensível. Durante mais de 100 anos você vendeu objetos físicos, detinha controle sobre a produção, a pirataria era limitada e de baixa qualidade. De um dia para o outro não controla mais nada, sua música roda o mundo em segundos.

As lojas de música online estão demonstrando que é possível sim ganhar muito dinheiro com esse formato. As gravadoras deveriam investir pesado e sem medo, pois elas detém toda a expertise do processo, que vai muito além de gravar CDs empacotar e vender.

Esse investimento é importante pois o CD não teve tempo de criar uma legião de fãs como o LP. Até hoje são gravados discos de vinil em edições limitadas, equipamentos para audiófilos custam milhares de dólares e ninguém se desfaz das coleções. Já o CD não desperta a mesma paixão. É algo basicamente utilitário.

Mesmo quem compra CDs imediatamente ripa o bicho, joga pro iPod e joga o CD pra estante.

A possibilidade de acessar milhares de músicas é tentadora demais, é a tal quebra de paradigma que mencionei. O CD antes competia com o LP, agora compete com a capacidade de armazenamento da Internet, ou pelo menos de um celular com cartão MicroSD de 4GB, que comporta mais de 800 músicas e custa por volta de R$20,00 no Rio de Janeiro.

Pelo preço de menos de um CD você armazena 50.

Aposto que muita gente aqui tem em uma gaveta um Discman abandonado, que já foi o objeto mais importante em suas vidas, levado na mochila junto com pilhas extras e o inevitável estojo com 20 CDs. Você pode até ter saudades, mas duvido que queira voltar àquele tempo.

Mais ainda: O CD Duplo do Rei, 30 Grandes Sucessos 99 em um popular site de vendas está cotado a R$39,90. Um DRIVE de CD, o leitor físico, acessório para seu computador está sendo vendido no Rio por inacreditáveis R$6,85. Se quiser ser extravagante e comprar um drive de DVD, que também lê CDs, isso custará os mesmos R$39,90 de UM disco.

Enquanto o CD estrebucha em uma mesa enrolado em plástico (só por causa daquela maldita embalagem inviolável ele já merecia morrer) igual uma vítima de Dexter, comendo pelas beiradas vem aquele senhor de idade avançada, cujas notícias de morte sempre se mostram um tanto ao quanto exagerada: O Rádio.

Homenageado pelo Queen com a linda Radio Gaga (aviso: Nada a ver com Lady Gaga) em 1984 o Rádio já era dado como morto, mas quando você é uma das maiores bandas de todos os tempos, acaba sabendo das coisas, e a letra é clara:

Esperemos que você nunca vá embora, velho amigo
Como todas as coisas boas dependemos de você
Então fique por aí, pois podemos sentir sua falta
Quando nos cansarmos de todo esse visual
Você teve seu tempo, você teve seu poder
Você ainda não teve seu melhor momento

Enquanto o mundo trocava de formatos de mídia o rádio continuava o mesmo. Ainda hoje no Brasil é a principal fonte de informação e entretenimento para boa parte da população. Durante anos acompanhei em meu banho matinal o Show do Antônio Carlos, na Globo AM, daí minha falta de empolgação com o formato podcast. Nada mais é que o bom e velho rádio AM, usando a Internet como estação.

Uma das maiores reclamações contra o iPod é justamente a ausência de um receptor de FM. O ZuneHD da Microsoft, os Sansa e virtualmente todos os players xing-lings de música do mercado tocam FM.

Conclusão:

Uma eterna briga de formatos físicos que dura mais de 100 anos está finalmente chegando a uma conclusão. A indústria, o Mercado, as pessoas, nós, todos os envolvidos levamos um Século para perceber o que o rádio já sabia: Nós consumimos a música, não o formato. Ao entregar a música em um formato consistente não precisamos trocar a biblioteca a cada atualização de equipamento.

Um rádio de cem anos atrás toca sem problemas as estações AM de hoje. Um rádio ultramoderno faz o mesmo com muito mais qualidade, mas não é obrigatório ter um.

A música em formato digital e distribuída de um ponto central encerra a preocupação de ver a biblioteca se tornar obsoleta de um dia para o outro. Ela se torna tão flexível que podemos compartilhar com os amigos nossa seleção musical, atacando de DJ (acharam que eu deixaria escapar esse clichê?) e divulgando aquela banda ótima que só a gente conhece.

A interação do mundo online é uma evolução em relação ao rádio, certo?

Errado. Rádios ao contrário da TV são focadas na interação, seja por carta, telefonema ou mais recentemente email. Décadas antes do surgimento das redes sociais (pra não falar da Internet) rádios como a Fluminense já tinham comunidades de ouvintes fiéis que interagiam na madrugada, faziam encontros e enviavam conteúdo.

Para os que acham que esse modelo é difícil de monetizar (ignorando iTunes, Amazon, etc), fica o exemplo: Nos anos 80 uma rádio do interior já havia aprendido como ganhar dinheiro com conteúdo customizado, sem ser via publicidade.

Quando eu era criança e passava férias em Bom Jesus do Norte, ES a rádio da cidade oferecia um serviço e tanto: Você ia até o estúdio, pagava o equivalente a R$0,50 e podia dedicar uma música para uma menina.

http://www.techtudo.com.br/platb/gadgets/

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